Bala Mágica
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O BALA MÁGICA MUDOU DE ENDEREÇO

Este blog agora faz parte do condomínio
de blogs de ciência Science Blogs Brasil!
Acesse o novo link do Bala Mágica e fique por dentro
do que acontece no nano(bio)mundo:


Comentários não serão mais aceitos aqui no Blogger,
por gentileza dirija-se ao novo endereço.

Aguardo você lá no SBBr!
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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mudanças e despedidas

O BALA MÁGICA ESTÁ DE MUDANÇA!

Você já ouviu falar no Science Blogs?

Science Blogs é a maior rede de blogs de ciências do mundo, e é vinculado ao Seed Media Group. Esta que vos escreve teve a honra de ser convidada a participar do segmento do SB em língua portuguesa, o Science Blogs Brasil. Como toda mudança, é preciso desencaixotar as coisas, pintar as paredes, arrumar a bagunça, etc etc antes de receber as visitas. Logo, logo, estará tudo arrumadinho e poderei abrir as portas da casa nova (ainda falta uma coisinha aqui, outra ali - tudo estará ok até o fim da semana). O novo endereço é bem fácil:


Para quem é assinante do blog, nada muda, pois o feed já foi atualizado.

Confesso que sentirei um pouquinho de saudade daqui, pois o início deste blog foi emblemático para mim e cada "pindurico" nas sidebars é cheio de significado e lembranças (que melodramática, não?) . Mas a mudança compensa, pois a vizinhança é da mais alta estirpe e é um tremendo orgulho poder fazer parte de um projeto bacana como o SBBr.

Obrigada, leitor, por acompanhar-me até aqui. Aguardarei você lá no SBBr com ansiedade!

Ah! Novos comentários não serão mais aceitos nas postagens aqui no Blogger. Ficarei feliz em publicá-los no novo endereço.

domingo, 22 de novembro de 2009

O triste paradoxo da ciência gaúcha

A ciência do Rio Grande do Sul vive um triste paradoxo. O Estado é o quarto maior produtor de ciência e tecnologia do Brasil, com um corpo de 915 pesquisadores que possuem bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq. Temos universidades que figuram entre as melhores do país, de acordo com dados do Ministério de Educação (MEC). As empresas locais vêm se interessando cada vez mais em incorporar pesquisa tecnológica e inovação em suas atividades. Com tantos ótimos indicadores, onde está o paradoxo? No apoio do governo estadual à ciência, que é simplesmente pífio.

FAP é uma agência estadual de fomento, cuja sigla significa Fundação de Amparo à Pesquisa. A função de uma FAP é basicamente custear projetos de pesquisa com recursos do Tesouro do Estado, a fim de promover a inovação tecnológica, a divulgação científica e estimular a formação de recursos humanos. Ao contrário de órgãos federais como o CNPq, que priorizam interesses nacionais ao fomentar projetos, uma FAP deve prezar pelos interesses regionais. A primeira FAP a ser fundada no Brasil foi a gaúcha FAPERGS, em 1964. Desde então, vários estados criaram as suas próprias FAP, muitas extremamente atuantes, como a FAPESP (São Paulo), a FAPERJ (Rio de Janeiro) e a FAPEMIG (Minas Gerais).

A Lei Complementar n.º 9.103 (8/07-1990) destina 1,5% da receita líquida de impostos do Estado do Rio Grande do Sul à FAPERGS. No entanto, esse percentual nunca foi cumprido. Na prática, apenas cerca de 30 % desse valor era repassado. Mesmo assim, a FAPERGS figurava entre as principais FAP do Brasil na década de 1990. Nessa época, a agência lançou o primeiro edital de interação universidade-empresa do país, cujo modelo foi posteriormente adotado pela FAPESP (que hoje investe cerca de R$ 40 milhões apenas nesse projeto). A situação da FAP gaúcha tem se agravado a cada ano e nos últimos tempos ganhou tons de drama apocalíptico: um corte de 50 % nos repasses ocorreu entre 2005 e 2007. Em 2007, foram recebidos R$ 8,2 milhões ao invés dos R$156,7 milhões de reais determinados pela Constituição Estadual.

A FAPERGS tentou emplacar duas emendas com mais de 13 mil assinaturas de apoio em busca de recursos para a instituição no orçamento de 2010. Só que ciência não é prioridade na opinião da maioria dos nossos deputados estaduais, já que as emendas não foram aprovadas. Devido a isso, a fundação irá fechar o ano com gasto inferior a R$ 9 milhões e a previsão para 2010 é de aproximadamente R$ 10 milhões em caixa. Para fins de comparação, o orçamento da FAPEMIG é de R$ 250 milhões (Minas Gerais tem um número de doutores e de recursos investidos por agências federais semelhante ao do Rio Grande do Sul). A consequência? Boa parte dos recursos federais propostos para a pesquisa no Estado não serão mais recebidos, pois é exigida uma contrapartida, mesmo que simbólica, da FAPERGS. O sucateamento da FAPERGS vai na contramão do que é observado na esfera federal, cujo apoio a Ciência, Tecnologia e Inovação nunca foi tão efetivo.

Essa situação estimulou a professora Marcia Barbosa, Diretora do Instituto de Física da UFRGS, a organizar um levante. Os nomes dos ilustres deputados que votaram contra a emenda de aumento do orçamento da FAPERGS foram publicados no site do Instituto de Física da UFRGS como forma de protesto e de conclamação da comunidade acadêmica a se rebelar contra esse descaso governamental. Do texto publicado pela professora Márcia Barbosa (que recomendo a leitura), extraio um trecho para apreciação do leitor:

"A insuficiência e a instabilidade de recursos da FAPERGS inviabilizam o:
- atendimento continuado da demanda espontânea dos grupos de pesquisa;
- aproveitamento pleno dos recursos federais vinculados à contrapartida do Estado, como é o caso de vários programas da FINEP, CNPq e CAPES;
- financiamento de projetos induzidos em áreas consideradas prioritárias pelo Governo do Estado."

Quando estive em São Paulo para o lançamento do Photoprot, ouvi reiteradas vezes que o produto inovador e a empresa que o desenvolveu são motivo de orgulho para os paulistas. Ouvir isso me fez pensar... Ora, o investimento governamental em ciência e tecnologia é estratégico, pois estas últimas estão intrinsecamente atreladas à inovação feita pelo setor industrial, que por sua vez gera riqueza econômica e desenvolvimento. A concretização desse ciclo virtuoso só é possível se pesquisa científica for prioridade política.

Esse é um bom momento para os habitantes do Rio Grande do Sul (acadêmicos, políticos, empresários, população em geral, na próxima eleição) tomarem uma decisão sobre que tipo de Estado querem construir para as próximas décadas: um pampa que preza pela inovação e a utiliza como força geradora de riqueza e desenvolvimento, ou um deserto cada vez mais árido de idéias, iniciativa e (por que não?) orgulho.

Agradecimento à professora Adriana Pohlmann, que instigou esse post durante a viagem a São Paulo.

UPDATE 24/11/2009: Os deputados estaduais que participaram da votação mencionada acima fazem parte da Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle da Assembleia Legislativa do RS. Um Projeto de Lei (nesse caso, o PL 226/2009) precisa passar primeiro por uma dessas comissões antes de ser votado em sessão plenária.

sábado, 21 de novembro de 2009

A ciência também segue as tendências da moda

(fonte: PhDComics)

Será que o futuro nos reserva uma "picociência" para acabar com o reinado das nanocoisas?

;-D

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Menor, e menor, e menor .....

Na década de 1980, a onda era o universo "micro". Dentro desse universo, a microeletrônica ocupava um espaço importante. Nessa época, a indústria brasileira basicamente copiava o que se fazia lá fora. Vivíamos um período de forte retração da produção industrial e de estagnação econômica. Dado o contexto histórico, nessa época ninguém acreditava que o Brasil teria oportunidade de competir em tecnologias de ponta. Por conta disso, a produção nacional na área da microeletrônica não foi incentivada e recursos humanos especializados não foram formados. Como dizem por aí, perdemos esse bonde.

Na década de 1990, ocorreu a abertura do mercado brasileiro, "globalização" caiu na boca do povo, a internet começou a dar seus primeiros passos, o fim da Guerra Fria resultou numa nova configuração de poderes no mundo e os olhos dos cientistas se voltaram para uma dimensão mil vezes menor que a do micrometro. Desde então, o interesse sobre as "nanocoisas" vem crescendo exponencialmente. Hoje, há mais de 1000 produtos nanotecnológicos no mercado mundial e estudos de prospecção apontam uma tendência de crescimento da área que se estenderá até pelo menos 2050. Não é a toa que a nanotecnologia é considerada como área portadora de futuro pelo governo federal. Além disso, o empresariado brasileiro está acordando para o fato de que não é possível crescer sem inovar. Tomara que, este bonde, o Brasil não perca.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Nanoarte

De tempos em tempos tenho publicado aqui algumas imagens de microscopia eletrônica de "nanocoisas", cujas formas são tão interessantes, que acabaram sendo premiadas no concurso Science as Art, promovido todo ano pela Materials Research Society (MRS). As imagens de microscopia eletrônica são obtidas em escala de cinza - alguns "artistas" usam programas como Photoshop para colorizá-las e realçar sua beleza.

No Brasil, uma iniciativa semelhante foi feita, no que se refere à divulgação das coisas nanométricas sob o ponto de vista estético. Há um tempo atrás recebi um e-mail do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) com indicação para um link sobre "Nanoarte". Abri o link e tive uma grata surpresa: as imagens são lindas! Selecionei quatro de forma aleatória para deleite do leitor, mas recomendo que todas sejam vistas.

A ideia é encabeçada pelo professor Elson Longo, do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Os créditos das imagens são de Rorivaldo de Camargo, técnico em microscopia, e Ricardo Tranquilin, mestrando. Belas imagens e bela iniciativa.

OBS.: As imagens do projeto são de materiais cerâmicos em pó. A única coisa que senti falta no site foi de uma indicação mais específica do que é composta cada imagem e detalhes da técnica empregada para obter cada uma.

sábado, 14 de novembro de 2009

Photoprot: primeiro fotoprotetor 100 % brasileiro contendo nanocápsulas

A Biolab Sanus Farmacêutica lançou hoje pela manhã em São Paulo, no Teatro WTC, o primeiro fotoprotetor contendo nanocápsulas biodegradáveis com tecnologia totalmente desenvolvida no Brasil. E eu estive lá para presenciar tudo. O evento em si foi caprichadíssimo. Estavam presentes representantes do governo Federal e do governo do Estado de São Paulo, da ABIFINA, membros da classe médica, toda a diretoria da Biolab e uma comitiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (euzinha incluída). No encerramento, fomos brindados com um emocionante recital de músicos eruditos do Rio Grande do Sul. Mas não se preocupe, caro leitor – encerro aqui meu momento Amaury Jr. Minha intenção é trazer outros aspectos desse evento.

O Photoprot, nome comercial do fotoprotetor contendo nanocápsulas, é fruto de uma parceria entre a empresa Biolab e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), e foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa coordenado pelas professoras Sílvia Guterres e Adriana Pohlmann. O fotoprotetor lançado hoje pela Biolab é feito de nanocápsulas biodegradáveis, ou seja, elas rapidamente se degradam em pequenas moléculas naturalmente presentes nos organismos vivos após seu uso, sem danos ao ambiente ou à saúde do consumidor. Uma de suas vantagens consiste em aumentar o tempo de permanência dos componentes ativos na pele.

“O Photoprot nasce da tão propagada e pouco praticada parceria público-privada. O conhecimento da universidade precisa ser trazido para dentro da indústria”, afirmou o Diretor da Biolab, Dante Alário Jr. De acordo com ele, há um esgotamento do modelo que a indústria farmacêutica vem praticando no que se refere a moléculas inovadoras, e o caminho para inovar nesse cenário passa pela nanotecnologia. “Esse momento coroa um trabalho de quatro anos”, disse a professora Sílvia Guterres, ao apresentar a tecnologia de nanocápsulas biodegradáveis (denominada Nanophoton®) para o público presente. E isso é só o início, pois de acordo com Dante, o Photoprot é o primeiro de uma geração de produtos à base de nanotecnologia que a Biolab vem desenvolvendo e irá lançar no mercado em breve.

A nanotecnologia é apontada por muitos como uma oportunidade para o Brasil aumentar de forma expressiva sua competitividade tecnológica no mercado mundial. Concordo com essa visão. Durante o evento, tive a oportunidade de conversar brevemente com o Prof. Mario Baibich, diretor de Política e Programas Temáticos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped/MCT), e ele afirmou que vem trabalhando ativamente para convencer os membros da câmara de deputados do quão estratégico é investir em nanotecnologia no Brasil. Cabe salientar que esse tipo de iniciativa é bastante recente no nosso país. “Há cerca de seis anos atrás, não se falava em inovação. Quando iniciei na indústria, há 17 anos, era preciso ir a bibliotecas de universidades para pesquisar, era tudo muito difícil”, contou-me a Gerente de P&D da Biolab, Solange Soares. Essa realidade faz parte cada vez mais do passado, pois conforme ela, “hoje não é possível crescer sem inovação”.

Nas palavras de Dante Alário Jr., “este é um momento histórico para a indústria farmacêutica nacional, (...) e o Photoprot marca uma vitória da pesquisa nacional, tão posta em dúvida. Esta é a prova concreta da capacidade da indústria brasileira em inovar”.

P.S.: Aproveitei para ler, durante a viagem de avião, Além de Darwin, de autoria do jornalista Reinaldo José Lopes. Ainda não acabei (falta 1/3 do livro), mas até agora me diverti à beça, e aprendi várias coisas legais sobre a teoria evolucionista. Recomendo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nanotecnologia: um debate público

O Editorial da última Nature Nanotechnology (nov. 2009) trouxe uma discussão bastante pertinente sobre como é importante que os cientistas que trabalham com nanociência e nanotecnologia comuniquem ao público leigo quais tem sido seus resultados de pesquisa e que produtos eles estão desenvolvendo. O assunto já havia sido levantado há cerca de um mês atrás, com a publicação do relatório Reconfigurando Responsabilidades - Aprofundando o Debate sobre a Nanotecnologia, de autoria de um grupo de cientistas europeus. Infelizmente, por força de alguns compromissos (eles sempre vem todos juntos!), não pude dar a devida atenção ao relatório na época, mas nem por isso esqueci do assunto.

O grande receio do pessoal da área é que a reação pública à nanotecnologia seja semelhante àquela ocorrida há alguns anos atrás com o surgimento dos organismos geneticamente modificados, onde a aversão aos riscos foi tão grande que muitas informações desencontradas e até absurdas foram tomadas como corretas por uma parcela significativa da população. Um dos grandes erros da época foi limitar o debate público sobre os alimentos geneticamente modificados. É justamente nessa linha de raciocínio que tanto o relatório europeu quanto o editorial da Nature defendem que os debates sobre riscos e benefícios da nanotecnologia não devem se restringir aos muros da academia ou das grandes corporações. Concordo plenamente com esse posicionamento.

É preciso trazer a sociedade para a esfera dos debate - afinal, é esta sociedade que sofrerá os impactos (inclusive éticos e sociais) da nanotecnologia. Mas para que o debate seja profícuo, primeiro as pessoas precisam SABER o que é nanotecnologia. E a maioria não sabe. Uma pesquisa realizada pelo PEN em 2007 mostrou que 42 % dos norte-americanos entrevistados nunca haviam ouvido falar em nanotecnologia. A mesma pesquisa demonstrou que 51 % não tinham opinião formada sobre seus riscos e benefícios. Uma pesquisa feita pelo MCT no mesmo ano mostrou que 84 % dos brasileiros entrevistados não conheciam nenhuma instituição dedicada a fazer pesquisa em nosso país. Essa mesma pesquisa demonstrou que a nanotecnologia é uma das áreas mais importantes a ser desenvolvida no Brasil nos próximos anos apenas na opinião de 3 % dos entrevistados. Além disso, a grande maioria (73 %) se informava pouco ou nada sobre ciência e tecnologia, principalmente por não entendê-las. No entanto, 41 % afirmaram ter muito interesse por ciência e tecnologia (!). Os resultados apontados por essas pesquisas demonstram o quão importante é a divulgação científica feita de forma atraente, acessível e com qualidade de conteúdo e o quanto essa demanda ainda não foi satisfeita. Nesse contexto, divulgação científica é um compromisso social de quem constrói a ciência. Um trabalho interessante tem sido feito nesse sentido pela rede Renanossoma, que une pesquisadores de todas as áreas da ciência para discutir os impactos ambientais e sociais das nanotecnologias.

Terei a oportunidade de falar sobre a divulgação da nanobiotecnologia pela mídia e de debater a respeito da divulgação científica feita com o auxílio das novas mídias, juntamente com o jornalista de ciência da Folha de São Paulo Reinaldo José Lopes e o acadêmico de ciências biológicas Luiz Felipe Benites, hoje à noite, na Unisinos. Programação aqui (se você mora na região metropolitana de Porto Alegre, ainda dá tempo de aproveitar o evento!).

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Os impactos da nanotecnologia - vídeo I da ChemMatters

Sigo o consultor do Project on Emerging Nanotechnologies (PEN), Andrew Maynard, no Twitter. Foi lá que vi um link sobre um video interessante a respeito dos impactos da nanotecnologia, promovido pela ChemMatters, da American Chemical Society. Infelizmente o vídeo está em inglês e sou uma negação para inserir legendas, mas só as imagens já valem o click!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Carl Sagan day

(Origem da foto aqui)

Hoje é o dia em que o astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996) completaria 75 anos de vida, e em homenagem a esse ilustre cientista e divulgador da ciência, comemoramos hoje o Carl Sagan Day!

Para quem não o conhece, recomendo fortemente a leitura de um de seus ótimos livros, cujo título é O Mundo Assombrado Pelos Demônios. Nesse livro, o autor discorre com maestria sobre as relações entre os mitos, as pesudociências, nossos medos e desejos, bem como as relações entre a ciência e a sociedade, numa linguagem bem acessível e até irreverente.


Como já dizia o próprio:

"Mais vale acender uma vela do que maldizer a escuridão".

P.S.: Vale dar uma olhada na coletânea de entrevistas e textos de e sobre Carl Sagan, no Ceticismo Aberto.

domingo, 8 de novembro de 2009

Para chegar ao cérebro, só com passe VIP!

ResearchBlogging.org
Pode não parecer à primeira vista, mas para um fármaco chegar ao cérebro, ele precisa ser especial. Está pensando que é qualquer um que pode passar pela barreira hematoencefálica?

Se a última palavra embaralhou, eu explico: barreira hematoencefálica nada mais é que o conjunto de células super-ultra-mega unidas que compõem os vasos sanguíneos do cérebro. Os espaços entre essas células são tão pequenos que praticamente nada as atravessa. Você deve estar pensando: como os nutrientes que estão no sangue chegam ao cérebro, se nada passa pela barreira? Moléculas maiores, como a glicose, passam do sangue para o tecido cerebral através de mecanismos especiais sofisticados, envolvendo "transportadores" que permitem sua passagem de forma seletiva. Moral da história: a entrada de substâncias no cérebro é algo altamente controlado, e não é para qualquer molécula não!

A barreira hematoencefálica é uma complicação a mais para quem desenvolve novas moléculas para o tratamento de doenças cerebrais - é preciso que o fámaco chegue no local da doença para poder agir. Se é difícil fazer uma molécula atravessar a barreira, a nanobiotecnologia pode dar a ela um passe VIP e facilitar as coisas: quando encapsulamos uma molécula em uma nanopartícula e revestimos a mesma com polissorbato 80, conseguimos fazer com que ela atravesse a barreira hematoencefálica e atinja o tecido cerebral.

Quer um exemplo dessa estratégia? Pesquisadores da Índia e da Malásia encapsularam rivastigmina, um fármaco usado no combate ao Mal de Alzheimer, em nanopartículas poliméricas. Metade das nanopartículas foi revestida com 1% de polissorbato 80 e outra metade não foi. Ratos foram tratados de três maneiras diferentes: 1) com rivastigmina não-encapsulada, 2) com rivastigmina em nanopartículas poliméricas sem polissorbato 80, e 3) com rivastigmina em nanopartículas poliméricas revestidas por polissorbato 80. O resultado pode ser visto claramente no gráfico abaixo:


As setas coloridas, cuja adição na figura é por minha conta, indicam a concentração de fármaco que atravessou a barreira hematoencefálica e chegou ao tecido cerebral. A seta vermelha aponta para o fármaco encapsulado em nanopartículas revestidas com polissorbato 80. Fica evidente que a concentração de fármaco no cérebro, neste caso, é muito maior que aquela proporcionada pela encapsulação em nanopartículas sem polissorbato 80 (seta verde). Por sua vez, encapsular a rivastigmina em nanopartículas sem polissorbato 80 (seta verde) dá o mesmo resultado que administrá-la da forma convencional - sem uso da nanotecnologia (seta amarela).

A conclusão? Nanopartículas revestidas com polissorbato 80 fizeram com que mais fármaco chegasse ao tecido cerebral - isso é positivo, ja que mais fármaco no local de ação aumenta a eficácia do tratamento. Essa estratégia é válida não só para o Mal de Alzheimer, mas também para tumores e outras desordens cerebrais.

Uma pequena observação...

Como fica evidente no gráfico, a rivastigmina chegou a outros locais além do cérebro: fígado, baço, pulmões, rins. Isso demonstra que nem sempre é possível atingir o ideal, que é fazer com que o fármaco chegue apenas ao local de ação no corpo (no caso, o cérebro). Embora mais fármaco chegue ao cérebro usando a estratégia do polissorbato 80, o paciente não estará livre de potenciais efeitos adversos causados pela chegada do fármaco em outros locais que não são o alvo, tal qual já acontece em um tratamento convencional que não emprega nanotecnologia.


WILSON, B., SAMANTA, M., SANTHI, K., KUMAR, K., PARAMAKRISHNAN, N., & SURESH, B. (2008). Poly(n-butylcyanoacrylate) nanoparticles coated with polysorbate 80 for the targeted delivery of rivastigmine into the brain to treat Alzheimer's disease Brain Research, 1200, 159-168 DOI: 10.1016/j.brainres.2008.01.039

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Quando a desunião pode ajudar a salvar vidas

Intrigado com o título do post?

Antes que elucubrações filosóficas surjam na sua mente, esclareço que a desunião à qual me refiro é de células. Células? Sim, das células que recobrem a parede dos vasos sanguíneos. O conjunto dessas células é chamado de endotélio (update 10/11/09: termo gentil e devidamente corrigido pelo Gabriel). Em tecidos sadios, essas células são bem próximas umas das outras. Apenas pequenas moléculas podem atravessar os espaços entre elas, passando do sangue para os tecidos vizinhos. No entanto, em regiões inflamadas ou mesmo em regiões atacadas por tumores, essas células estão menos unidas entre si que aquelas de regiões sadias.

E por que essa "desunião" pode ajudar a salvar vidas?

Os fármacos em geral são pequenos o suficiente para atravessar o endotélio em todas (ou quase todas) as regiões do corpo, chegando tanto nas regiões-alvo quanto em outras regiões que não estão relacionadas à doença. Isso origina muitos dos efeitos adversos dos medicamentos, porque os fármacos acabam atuando onde devem e onde "não devem". No entanto, se esses fármacos estiverem encapsulados dentro de nanopartículas de 50 a 300 nm (em média), eles não serão capazes de atravessar a parede dos vasos de regiões sadias do organismo (o espaço entre essas células é de apenas 15 a 30 nm). Seria como tentar fazer um elefante passar pela porta da cozinha! No entanto, os espaços entre as células de regiões inflamadas ou tumorais é grande o suficiente para permitir a passagem dos elef.. ops, das nanopartículas.

(Origem da imagem: aqui)


Pense comigo: se as nanopartículas passam apenas pela parede dos vasos nas regiões com tumor, a consequência é um acúmulo das nanopartículas no tecido tumoral vizinho ao vaso sanguíneo, certo? O pessoal da área de nanobiotecnologia chama essa estratégia de vetorização de efeito EPR (sigla em inglês que significa permeabilidade e retenção aumentados). A ilustração acima mostra como ocorre acúmulo de nanopartículas em regiões tumorais devido ao efeito EPR.

Quer um exemplo? Pesquisadores da Duke University encapsularam doxorrubicina (um fármaco usado na terapia do câncer) em nanopartículas e observaram uma completa regressão de tumores em ratos, após uma única injeção. O mesmo não foi observado para a doxorrubicina não-encapsulada. Além disso, os ratos toleraram uma dose quatro vezes maior de doxorrubicina quando esta estava encapsulada nas nanopartículas. Essas duas observações (aumento da efetividade e redução da toxicidade do fármaco) são consequência direta da vetorização do fármaco nanoencapsulado por meio do efeito EPR. Embora este ainda seja um estudo em andamento, já há produtos disponíveis no mercado para tratamento do câncer através desse princípio, tal como o Doxil(R).

Fonte sobre o estudo: EurekAlert! (assim que sair o DOI do artigo na página da Nature Materials, publicarei aqui).

Glossário:

Vetorização: promoção do acúmulo de fármaco em um órgão ou tecido específico de forma quantitativa e seletiva, independentemente da via e método de administração.

Vi um link sobre o estudo citado acima via @ciencianamidia (Siga a Tati Nahas no Twitter e fique por dentro de tudo o que a mídia veicula sobre ciência e tecnologia)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quer ver um nanocristal de ouro?


Essa é a imagem de um cristal de ouro obtida por Microscopia de Força Atômica, que ganhou o segundo lugar do prêmio Science as Art de 2008, promovido pela MRS. A "artista" é Violeta Navarro, da Universidad Complutense de Madrid (Espanha).

(Na minha graduação, eu tive uma colega que dizia que o sonho dela era ainda ver um átomo. Bem... aí está, um monte deles!) Enjoy.


Glossário:

Microscopia de Força Atômica (AFM, da sigla em inglês): permite visualizar átomos sobre superfícies (tal qual na imagem acima). Nessa técnica, uma ponteira altamente precisa passa pela amostra e é elevada quando há um átomo na superfície. O sistema do microscópio entende que a elevação da ponteira é um átomo e faz um registro que é convertido em pixels pelo computador.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O que o fullereno tem de tão especial

Como já citado aqui nesse blog, o fullereno ganhou o título de molécula do ano de 1991, da revista Science. Para uma molécula, é tão impactante quanto é para uma pessoa sair na capa da Newsweek e ser considerada personalidade do ano!

Mas o que é que o fullereno tem?

Sinais de uma molécula com 60 carbonos já haviam sido detectados fora da Terra na década de 1980. Sua organização estrutural (ou seja, como os átomos se conectam entre si) era um mistério para todos. Como cargas d'água poderia existir na natureza uma molécula com 60 átomos de carbono e nada mais? Como os átomos se ligariam? É aí que a história toma um rumo inusitado. A inspiração que forneceu essa resposta não estava nos laboratórios, mas sim na arquitetura!

Richard Buckminster ("Bucky") Fuller (1895 – 1983) foi um arquiteto americano que se destacou por propor estruturas chamadas cúpulas geodésicas, que são estruturas ao mesmo tempo muito leves e muito resistentes. A forma como elas são construídas permite que grandes espaços sejam cobertos sem a necessidade de suportes internos, como colunas. Uma dessas cúpulas foi construída para a Exposição Internacional de Montreal de 1967 (EXPO 67). O químico Harold Kroto havia passeado por baixo dela na época com sua família e havia ficado fascinado com o design dessas cúpulas.

Imagem de uma cúpula geodésica (fonte aqui)

Veja como é a vida: uns quinze anos depois, com um intrincado quebra-cabeça da natureza em mente - como 60 carbonos podem formar uma molécula? -, Harold Kroto e demais membros da equipe de pesquisadores que estudavam o assunto, como James Heath, Sean O'Brien, Robert Curl e Richard Smalley, tiveram um insight! E se essa molécula com 60 átomos de carbono estivesse organizada como uma cúpula geodésica de Buckminster Fuller? Isso explicaria muita coisa! E, de fato, é assim que essas moléculas se organizam e é devido a isso que elas foram batizadas de fullerenos, ou buckybolas - uma singela homenagem do mundo da física a uma grande figura do design arquitetônico.

Nas cúpulas geodésicas, uma série de triângulos formam pentágonos e hexágonos, que são a chave para obter formas esféricas a partir de um objeto de faces planas. A forma mais esférica possível usando esse princípio é obtida com 12 pentágonos e 20 hexágonos (a base matemática das cúpulas geodésicas pode ser compreendida a partir de dois famosos teoremas: o teorema de Euler e o teorema de Descartes). Mas porque esferas? Na natureza, tudo tende ao estado de menor energia. A geometria esférica é preferida porque é menos energética que as outras formas geométricas, tais como quadrados e triângulos (é por isso, p. ex., que as gotinhas de água na superfície das folhas são esféricas, e não quadradas ou triangulares).

Depois de saber de tudo isso, é fácil perceber que não é à toa que os 60 átomos de carbono de um fullereno se organizam como 12 pentágonos e 20 hexágonos (tal qual uma bola de futebol!). Essa "arquitetura" do fullereno confere a ele alta resistência conjugada com alta leveza - eis um dos motivos que torna essa molécula tão interessante. E não são só eles que se organizam de tal forma ... vírus e quasi-cristais também apresentam uma arquitetura semelhante à das cúpulas geodésicas de Buckminster Fuller.

No início dos anos 1990, o grupo de Richard Smalley, do qual Harold Kroto fazia parte, conseguiu obter formas estáveis de fullereno em laboratório. Desde então, o estudo dos fullerenos e suas aplicações vem ganhando cada vez mais espaço em áreas tão díspares quanto a aeronáutica e a terapia fotodinâmica contra o câncer. Compostos semelhantes foram produzidos com número de carbonos diferente de 60, e fullereno acabou se tornando a designação de toda essa família de compostos, e não apenas da molécula com 60 átomos de carbono.


Para quem quiser saber mais sobre fullerenos e nanotubos de carbono, é só acessar o link de um artigo interessante publicado na Ciência Hoje, de autoria de Rodrigo B. capaz e Hélio Chacham.

domingo, 25 de outubro de 2009

Grandes personalidades da nanociência e nanotecnologia: Richard Smalley

Domingo, dia de futebol! Ah, esse jogo chinês que move multidões... Chinês? Mas o futebol não teve origem nas terras da rainha Elizabeth? Verdade, o futebol como o conhecemos teve origem na Inglaterra, por volta de 1850, mas sua história é bem mais antiga. O jogo chinês tsu chu (2500 a.C) foi um dos precursores do nosso futebol. E a história do futebol está intrinsecamente ligada à história da bola de futebol. Antes de 1800 d.C., os índios usavam uma bola feita com rins de porco para jogar uma "pelada".

Ainda bem que as coisas evoluíram, né? De acordo com as regras da FIFA, as bolas de futebol tem que ser esféricas, com circunferência entre 68 e 70cm. Apesar de não seguir as regras da FIFA, desde o início dos anos 1990 o nano(bio)mundo tem sua própria bola de futebol, com 1 nanometro de diâmetro, o que dá uma circunferência de um pouco mais que 6 nm. Tudo isso graças ao químico Richard Smalley e sua equipe, da Rice University (USA). Foi no laboratório do Dr. Smalley que, pela primeira vez, foi possível preparar uma molécula perfeitamente esférica composta por 60 átomos de carbono. Os átomos de carbono se ligam entre si de tal forma que o resultado são 12 pentágonos e 20 hexágonos, tal qual uma bola de futebol.


Richard Smalley e um modelo da buckybola (origem da foto aqui)


Essa bola nanométrica foi denominada buckminsterfullereno, ou buckybola, em homenagem ao arquiteto Buckminster Fuller. Esse arquiteto ficou conhecido por propor as cúpulas geodésicas, estruturas com alta resistência e leveza. Essas cúpulas apresentam estrutura muito semelhante àquela dos átomos de carbono no fullereno. Aplicações para os fullerenos tem sido encontradas nos campos da microeletrônica, dos semicondutores, das baterias e dos lubrificantes. Em 1991, a revista Science elegeu o fullereno como a molécula do ano.

A descoberta do fullereno, que é a terceira forma alotrópica do carbono, rendeu a Richard Smalley, juntamente com Robert F. Curl Jr. e Sir Harold W. Kroto, o prêmio Nobel em Química de 1996.

domingo, 18 de outubro de 2009

Borboletas, esses seres nanotecnológicos

Apesar de ter feito o maior frio aqui em Porto Alegre nos últimos dias, com tempo fechado e chuva, essa manhã de domingo que marca o início do horário de verão está bastante agradável. Os passarinhos estão cantando, o céu está azul, a temperatura está amena e o sol faz um efeito bonito nas asas das borboletas que vejo daqui da minha janela. Há borboletas azuis, amarelas e vermelhas, lindas! Difícil achar quem não goste de borboletas... Em muitas culturas, a borboleta é símbolo de renascimento, transformação e geralmente está associado ao mundo espiritual - provavelmente pelo fato de que a borboleta passa por vários estágios de maturação (lagarta, crisálida, borboleta).

O que pouca gente sabe é que as cores que vemos estampadas nas asas de muitos gêneros de borboletas, como a morfo azul, e que são tão agradáveis aos nossos olhos são fruto de uma nanotecnologia altamente refinada. Sim, as borboletas são seres nanotecnológicos! Vou explicar... As cores que vemos nas asas das borboletas se devem a estruturas nanométricas altamente organizadas (parecidas com plaquinhas) presentes nas asas. Essas plaquinhas fazem com que a luz que bate nelas seja espalhada apenas em certas direções e em certos comprimentos de onda, e é isso que vai definir a cor que veremos. O grau de organização das plaquinhas é parte fundamental desse processo, porque os espaços entre elas são exatamente da mesma dimensão que o comprimento de onda da luz espalhada. Só para exemplificar, se as plaquinhas estão organizadas de forma que os espaços entre elas tenham o tamanho do comprimento de onda da luz azul, veremos justamente essa cor. Se as plaquinhas estiverem completamente desalinhadas, sem organização nenhuma, os raios de luz de todos os comprimentos de onda serão espalhados em todas as direções indistintamente - e veremos a cor branca, que é a soma de todas as cores.

Os físicos chamam as estruturas nanométricas que espalham luz e causam o efeito de iridescência, de cristais fotônicos. Cada asa de borboleta possui diferentes tipos de cristais fotônicos: alguns mais organizados, que resultam na cor azul, outros menos organizados, que resultam na cor verde (que é a soma do azul e do amarelo), e por aí vai. As plaquinhas nanométricas nas asas das borboletas são compostas por quitina, que é aquela substância que também compõe a carapaça de camarões e é matéria-prima para fabricar a fibra alimentar quitosana.

Como explicado aí em cima, o ordenamento dos cristais fotônicos é fundamental para controlar a forma como a luz vai se propagar. Esse princípio tem sido bastante utilizado na área de telecomunicações, nos estudos para o desenvovimento de displays interferométricos que prometem cores mais brilhantes e vívidas e até mesmo nos mais recentes cosméticos. Sim, nos cosméticos! A empresa L'Oreal vem desenvolvendo estudos para "imitar" o efeito de iridescência das asas das borboletas, e chama essa tecnologia de maquiagem fotônica. Realmente, borboletas são seres inspiradores...

Glossário:

Iridescência: fenômeno que faz certas superficies refletirem as cores do arco-íris. Essa propriedade não é exclusividade das asas das borboletas - pode ser vista também nos besouros, cigarras, bolhas de sabão, caudas de pavão, escamas de peixe, entre outros.

UPDATE 19/10/2009: Começa hoje a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, uma iniciativa do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) do Brasil. Se você clicar aqui, terá acesso à programação e poderá reparar que a imagem escolhida para ilustrar o evento é a maturação de uma lagarta em borboleta azul. Espero que, depois de ler esse post, você possa "enxergar" ali um símbolo que transcende a ideia de transformação. Afinal, depois de saber que as asas das borboletas são dotadas de cristais fotônicos, elas bem que poderiam ser consideradas símbolo de tecnologia altamente refinada, você não acha?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carros com poder de cicatrização

É, o intelecto humano às vezes pode ser surpreendente...

Imagine que você estacionou seu carro na única vaga em quarteirões e mais quarteirões. Você está com pressa. E é contra a ideia de dar um troco para "cuidarem" do seu carro e diz não ao rapaz que "gentilmente" se ofereceu para o serviço. Depois de resolver seus compromissos, você volta à vaga onde estacionou seu carro. E - que revolta! - ele está riscado da dianteira à traseira. Depois de xingar um monte e desejar tudo de ruim ao desgraçado f.d.p. que fez tal desaforo, você faz as contas de quanto vai gastar para arrumá-lo.

Mas então...de repente... o carro começa a... cicatrizar! Você pisca e o arranhão não está mais lá e é como se nada nunca tivesse acontecido. Humm, mais uma história do seriado The Twilight Zone? (também poderia ser um episódio de Fringe, para os leitores mais novinhos).

Para pesquisadores do Fraunhofer Institute for Manufacturing Engineering and Automation IPA e da Duisburg-Essen University (Alemanha), essa ideia está mais próxima da realidade que da ficção. A indústria automobilística usa uma técnica chamada eletrodeposição para revestir a superfície dos carros - geralmente com cromo - para aumentar a resistência das partes metálicas à corrosão. Os pesquisadores alemães incorporaram nanopartículas nesse filme de revestimento dos carros. Ao sofrer danos - um arranhão na pintura, por exemplo -, as nanopartículas desse filme na região do dano seriam quebradas e liberariam um fluido capaz de reparar o estrago. O fluido preenche o risco e é como se nada nunca tivesse acontecido.

Mas porque eu mencionei que a ideia está mais próxima da realidade que da ficção? Porque esse estudo ainda está em andamento, e foram feitos testes com recobrimento de apenas alguns centímetros. Estima-se que testes com recobrimento de peças inteiras serão feitos no máximo em 2 anos. Isso significa que antes de 5 anos esse produto não estará no mercado. Mas provavelmente, num futuro não tão distante assim, mais uma bela ideia dos contos de ficção vai fazer parte do nosso cotidiano.

Fontes: Eurek Alert! e Next Nature.

P.S.: Obrigada ao L. Felipe A. por enviar o link e instigar o post.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Nanotecnologia à venda

Acordei hoje pela manhã e, viciada que sou, fui logo conferir meus e-mails. Dentre as mensagens, havia um press release da Agência FAPESP com a seguinte notícia: Nanotecnologia no Bebedouro. (Foi quando pensei: essa merece um post no Bala Mágica! A Inês, do Educatual, também pensou, hehehe)

Em resumidas palavras, a matéria trata de um produto lançado pela Nanox® Tecnologia S. A. para purificar água de bebedouros. Esse produto consiste de um filme contendo nanopartículas de prata e de dióxido de titânio. Como já foi abordado aqui neste blog, ambos os tipos de nanopartículas são capazes de exterminar bactérias de qualquer tipo. O uso desse filme para revestir as paredes do reservatório de água do bebedouro impede que bactérias cresçam na água armazenada ali.

A Nanox segue a tendência do mercado mundial. De acordo com o PEN (The Project on Emerging Nanotechnologies – USA), prata é a substância mais citada como componente de produtos nanotecnológicos à venda no mundo (e veja que são mais de 600 produtos inventariados!!!). Óxidos de zinco e titânio ocupam o terceiro lugar dessa lista, perdendo apenas para carbono (na forma de fulerenos e nanotubos). Para quem ficou curioso a respeito da empresa, ela é brasileira! A Nanox, sediada em São Carlos/SP, foi uma das primeiras empresas nanotecnológicas do Brasil, tendo iniciado suas atividades em 2005. Ela é um exemplo do que chamamos de empresa spin-off acadêmico: ela se originou a partir de um grupo de pesquisa de uma universidade - no caso, a UNESP.

Assim como a Nanox, várias empresas tecnológicas brasileiras surgiram depois da criação da Lei de Inovação Tecnológica (Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004), que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Apesar de ser alvo de algumas críticas, não há como negar que essa lei ajudou a favorecer um ambiente de inovação no meio empresarial, cujos reflexos vem sendo sentidos com mais força nos dois últimos anos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mesa redonda sobre a Compreensão Pública da Ciência

Há um pouco mais de mês recebi um convite do L. Benites A., o Amigo de Wigner, para participar de uma mesa redonda sobre Compreensão Pública da Ciência, que fará parte da programação do XII RABU (Reunião Acadêmica da Biologia da Unisinos), que ocorrerá de 9 a 13 de novembro em São Leopoldo/RS. Fico muito feliz de compartilhar a mesa com o Luiz Felipe e também com o jornalista da Folha de São Paulo Reinaldo José Lopes, outro blogueiro de ciência dos bons.
Como não sou especialista em divulgação científica de forma geral, vou falar do que sei: nanobiotecnologia. Mais especificamente, a Nanobiotecnologia Pelos Olhos da Mídia (sempre fazendo o contraponto com a realidade do laboratório).

Certamente, o bate-papo acabará envolvendo também uma discussão que já foi levantada no II EWCLiPo: o papel dos cientistas e dos jornalistas na divulgação de ciência. Espero representar bem os cientistas divulgadores de ciência por lá!

As inscrições abrirão no dia 12 de outubro. Espero você lá!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Você não acredita em nanopartículas porque não pode vê-las? Agora, você pode....

Na semana passada participei de dois eventos muito bacanas no Rio: o ICAM 2009 e o II EWCliPo - para quem é leitor assíduo, já está careca de saber. Mas o fato é que congressos sempre tem as festas-do-congresso (Mariana e demais pessoas da CH...olha aí que fantástica cobertura vocês perderam para o primeiro número daquela nova revista bolada na mesa de bar em Arraial).

Como não poderia deixar de ser, lá fui eu para a festa do ICAM 2009, no Rio Scenarium (legal, bonito, mas pra turista ver). De vez em quando eu finjo que danço forró - e me divirto pra caramba! Nessa festa no Rio Scenarium, me tiraram pra dançar... samba! Lógico que eu me perdi toda, pois não sei os passos (e samba é bem mais difícil que forró, convenhamos) - mas me diverti mais ainda e fiquei com vontade de aprender!

No nano(bio)mundo também há uma modalidade de dança de salão. Duvida? Ela se chama movimento browniano, em homenagem ao biólogo Robert Brown, que foi quem primeiro descreveu esse movimento em 1827 (embora, na época, ele tenha erroneamente achado que as partículas eram vivas). Esse movimento acontece com partículas na escala nano e micro quando elas estão imersas em um fluido (p. ex., um líquido) por causa dos choques das moléculas desse fluido nas partículas. É em parte por causa do movimento browniano que podemos determinar o tamanho de nanopartículas (para saber mais, veja o post explicativo).

Até aí, tudo certo. Mas quem garante que as nanopartículas realmente existem, se não as vemos? Sem entrar em detalhes sobre método científico e deduções lógicas, hoje tenho como provar para qualquer São Tomé de plantão (do tipo que só acredita vendo) que nanopartículas existem! Tudo isso, graças a um novo equipamento muuuuuito legal adquirido pelo laboratório onde faço doutorado (valeu, profs!) chamado NanoSight. Nesse equipamento, um feixe de laser incide sobre a amostra de nanopartículas e várias fotos são tiradas em sequência. O resultado é um vídeo como esse aí abaixo, onde é possível vê-las se movimentando caoticamente (com uma trajetória que descreve um fractal).



E então, qual será o melhor ritmo de música para essa dança?

UPDATE 02/10/09: O equipamento NanoSight faz parte do laboratório K204 do Instituto de Química da UFRGS, e foi adquirido com recursos do CNPq.
UPDATE 06/10/09: Erro crasso! Esqueci de agradecer ao "dono" da amostra de nanopartículas pelo filme acima... Valeu, Edu!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As aventuras de Fernanda Balla (mágica) pelos quatro cantos do Rio de Janeiro

(sim, esse título também é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Sábado, fim do segundo dia do II EWCLiPo - mas a noite... essa só estava começando. Como contei no último post desse blog, o pessoal resolveu continuar a discussão, que começou pela manhã, lá no bar Saint-Tropez, na praia dos anjos. Quando cheguei, encontrei duas grandes mesas já abarrotadas de blogueiros, em conversas animadas.

Não tive dúvida, sentei numa pequena mesa ao lado e pedi uma muqueca de peixe e frutos do mar + chopp. Fantástica!!!! Quando o placar já estava 4 x 1 para a muqueca (era comida para umas 4 pessoas!), chegou um pessoal pedindo licença para sentar na mesa: era a equipe de jornalistas da Ciência Hoje, que também estavam participando do evento. Equipe, aliás, divertidíssima - dei boas risadas com essa turma. E, como bons jornalistas, encheram-me de perguntas. Uma delas foi:"-Por que você começou a fazer um blog de ciências?"

"-Você quer a resposta oficial ou a não-oficial?"
"- A não-oficial, claro!"
"-Então tá, a resposta OFICIAL é porque acredito que divulgação científica bem-feita é um compromisso social. A NÃO-OFICIAL é porque eu acho que escrever para o blog é um divertimento!" (nesse momento um silêncio se estabeleceu e o pessoal da mesa fez uma cara de pena para mim....)

Qual não foi a minha supresa quando ouvi a mesma coisa - que divulgação científica é um divertimento - da prof. Suzana Herculano-Houzel, a primeira palestrante da manhã de domingo! Suzana nos brindou com uma palestra brilhante sobre o cientista e seu papel da divulgação de ciência. Segundo ela, existe SIM mercado para livros de divulgação científica no Brasil, e cientistas podem e devem suprir essa demanda. Eu não conhecia em maiores detalhes o trabalho dela, que é apoiado por órgãos como CNPq e FAPERJ (quem disse que divulgação científica é perda de tempo, hein?) - o fato é que virei fã de carteirinha da Suzana. Na palestra seguinte, a Alessandra Carvalho fez o contraponto, mostrando para a plateia qual é o papel do jornalista na divulgação científica (muito instrutivo!).

Infelizmente, não pude assistir às demais palestras do II EWCLiPO, nem participar do encerramento, mas valeu - conheci pessoas muito receptivas e agradáveis, com objetivos em comum: tornar a ciência e o pensamento crítico parte relevante do cotidiano das pessoas, desmistificar a figura do cientista (que pode até ser meio doido, mas também é gente!) e... se divertir com tudo isso :-)

Ainda não sei o que o pessoal decidiu sobre o EWCLiPo do próximo ano, mas seja onde for (Natal! Natal!), certamente estarei lá.

P.S.1: Na volta para o Rio, parei em Cabo Frio para almoçar bobó de camarão com chorinho ao vivo (nessa viagem de 10 dias pelo estado do RJ, só faltou a caldeirada de frutos do mar - mas como disse um amigo, não se pode ganhar todas).

Como é possível ver nas fotos, São Pedro não me sacaneou totalmente. Apesar do tempo ruim durante a semana no Rio, o sol apareceu no fim de semana. Devido a isso, tive a chance de ficar absolutamente extasiada com a beleza e com a cor do mar de Arraial (pena que as imagens abaixo não fazem jus ao que vi in loco).

(praia dos Anjos - local do II EWCLiPo, vista do alto do Pontal do Atalaia - Arraial do Cabo, RJ)
a autoria das fotos é minha, mesmo...

P.S.2: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado - antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata no Gene Repórter. Confira!

UPDATE 01/10/09: A Tati Nahas fez uma "ewclipagem" das fotos lá no Ciência na Mídia. Vale a visita.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Uma Balla (mágica) pelo mundo

(sim, o título é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Nove horas da noite de sexta-feira. Saí da cidade maravilhosa depois de uma semana de chuva e frio. Destino: a paradisíaca Arraial do Cabo. O fim de semana prometia... Lá estava eu indo participar do II EWCLiPo (Encontro de Weblogs de Ciência em Língua Portuguesa). Um inesperado congestionamento na ponte Rio-Niterói atrasou minha chegada - que era para ser as 23h, mas só larguei minhas coisas na pousada à 1h da madrugada. Isso não me impediu de levantar cedinho no sábado, com toda a disposição do mundo... Nesse dia eu teria a chance de conhecer os rostos por trás de tantos blogs legais sobre ciência. Sim, há rostos por trás deles!

Cheguei timidamente no Hotel A Ressurgência, local onde o encontro estava acontecendo desde sexta à tarde. Lá estava o simpaticíssimo prof. Mauro Rebelo, um dos organizadores do evento, repassando os slides da sua palestra, que seria a primeira da manhã. Perguntei a ele onde estava todo mundo. O prof. Mauro abriu um sorriso e disse que a confraternização do dia anterior tinha terminado mais tarde que o previsto. Depois de cerca de meia hora, aos poucos as pessoas foram chegando, e eu fui reconhecendo os rostos (ou parte deles, né Rafael?) das fotografias que constam nos blogs. Eu não tinha colocado referência ao Bala Mágica no meu crachá, e não tenho foto no blog, então foi inusitado algumas pessoas me reconhecerem também: "- Ahh, essa é a bala mágica!". Vejam que ganhei um nickname e fiquei me achando com essa, hahaha...

Na qualidade de organizador, o prof. Mauro chamou o pessoal a entrar no auditório (blogueiros de ciência, quando se juntam, começam a discutir sobre a vida, o universo e tudo mais, e não páram sem a ação de uma força externa). Uma atmosfera de discussão e troca profícua de ideias tomou conta do ambiente e permeou todo o evento. A palestra do prof. Mauro sobre escrita criativa foi ótima - "preguiça, ignorância e medo nunca geram ideias criativas". Na sequencia, a prof. Sonia Rodrigues nos trouxe sua experiência com inclusão digital de jovens e adolescentes. Não pude deixar de lembrar de coisas que já vivenciei lecionando no Projeto Educacional Alternativa Cidadã. O Carlos Cardoso nos brindou com uma divertidíssima palestra sobre como ganhar dinheiro com blogs - e outras cositas mas! Se você tiver a oportunidade de assistir esse publicitário que ganha a vida como blogueiro profissional e se apresenta como nerd, assista. (Descobri, por exemplo, que os blogs de ciência estão na categoria "Personal Carl Sagan"). O Carlos Hotta e o Átila Iamarino nos apresentaram sua experiência como gerentes do ScienceBlogs Brasil, e altas discussões surgiram sobre os critérios para um blog ser incluído no SBBr (afinal, quem não quer esse selo de qualidade para seu blog?)



Depois do almoço, o prof. Osame Kinouchi nos falou sobre redes complexas e mostrou o panorama da blogosfera científica brasileira. Depois dele, o prof. Leandro Tessler trouxe à baila a discussão sobre o efeito da ciência de má qualidade (ou anti-ciência) divulgada pela mídia na opinião pública, e mencionou a questão da hierarquização da informação na rede (ou a falta dela). E se você acha que só blogueiros de ciência estavam presentes no EWCLiPo, surpreenda-se com o palestrante seguinte: O Bernardo Esteves, editor da Ciência Hoje Online, veio com uma equipe e nos mostrou qual o papel de jornalistas e cientistas na divulgação da ciência.

Após as palestras, o prof. Osame anunciou os vencedores do prêmio de melhor blog científico, organizado pelo Anel de Blogs Científicos. O Bala Mágica ganhou o terceiro lugar (e um certificado!) na categoria Mente e Cérebro, Saúde e Medicina. O primeiro lugar dessa categoria foi do Ecce_Medicus. Qual a surpresa quando a Maria foi receber o prêmio? Na plateia, as pessoas se perguntavam: "- Então o Karl é menina?". Não... o Karl é uma entidade ;-)

Para variar, eu sempre pago mico nesses momentos. Estava eu posando para a foto com o certificado na mão, quando escuto de alguém da plateia:
"-Não é foto, ele está filmando!"; "-Ahhh, tá...hehehe". Os prêmios humorísticos também foram distribuídos lá. Menção especial ao Roberto Takata, que ganhou o troféu (na verdade, um sapinho) de comentarista de destaque da blogosfera (e do II EWCLiPo também!).

Depois de um dia de altas discussões, a galera toda foi para o Saint-Tropez, para continuar o papo com cerveja. Mas como o post está longo, continuo contando o que aconteceu em Arraial amanhã.

P.S.: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado - antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata (o ganhador do sapinho!) no Gene Repórter. Confira!

UPDATE 29/09/09: vídeo com depoimentos de blogueiros que participaram do II EWCLiPo, na página da Ciência Hoje Online.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Relatos do ICAM 2009 – parte II

Passando pelas sessões de pôsteres do ICAM 2009, achei algumas coisas muito interessantes.... Trago aqui para o Bala Mágica dois desses trabalhos. O primeiro é de autoria de Juliana C. Cancino - uma química muito simpática que faz doutorado em física -, juntamente com outros colaboradores (T.M. Nobre, S.S. Machado e V. Zucolotto) do Instituto de Química e do Instituto de Física da USP de São Carlos. Juliana construiu um modelo no laboratório que imita a membrana das nossas células e verificou que nanotubos de carbono podem penetrar na membrana, afetando seu empacotamento (que é a forma como ela se organiza no espaço). Cabe salientar que isso aconteceu apenas para nanotubos com determinadas características (como tamanho e tipo de superfície). Nanotubos grandes demais, por exemplo, não foram capazes de se inserir na membrana. Esse tipo de resultado pode ser uma evidência do potencial de toxicidade de nanotubos de carbono e como esse potencial pode ser minimizado alterando-se algumas das suas características.


Outro trabalho legal que vi lá é do Elias Berni – um físico que faz mestrado em biofísica – e colaboradores (V. Zucolotto e C.R. de Oliveira), do Instituto de Física da USP de São Carlos e da Embrapa Instrumentação Agropecuária. Sabe-se que tanto nanopartículas de prata quanto quitosana – uma fibra originada da carapaça de crustáceos – são capazes de impedir o crescimento de bactérias. Resumindo em poucas palavras, Elias mostrou que juntar quitosana e nanopartículas de prata num filme (que é o que chamamos de nanocompósito) tem um efeito maior na prevenção do crescimento da bactéria E. coli que aquele observado para os materiais separados somados. Esse estudo é um exemplo interessante de como é possível obter materiais muito mais eficientes devido ao emprego da nanotecnologia.


Ao meio dia de segunda-feira, estava acontecendo por lá um Lunch-Box Forum sobre desafios globais na educação, como parte das atividades da conferência. Nos banners que anunciavam o fórum, logo abaixo do título e acima da descrição das temáticas e dos palestrantes, estava escrito: “All are welcome”/”Free pizza”. Irresistível não lembrar do PhDComics nesse momento.....




Fonte: PhDComics


P.S.: Depois dos relatos do ICAM 2009, vou contar o que estará acontecendo no II EWCLiPo, direto de Arraial do Cabo-RJ. Aliás, já estou com as malas prontas para pegar a estrada ainda hoje...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Relatos do ICAM 2009 – parte I

Frio, chuva, céu cinzento e ventania. Coisas de Porto Alegre nessa época do ano... Só que eu não estou em Porto Alegre, mas sim no Rio de Janeiro! O motivo? Participar da Conferência Internacional sobre Materiais Avançados (ICAM 2009), que está sendo organizada pela Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) com o apoio da International Union of Materials Research Societies (IUMRS). Essa é a primeira vez que o ICAM acontece na América do Sul. Além de reencontrar pessoas, trocar ideias e ver o que o pessoal da área está fazendo, nesse ano fiquei atenta sobre assuntos que poderiam interessar ao leitor desse blog. Por isso, dividi o post em dois, para não ficar muito cansativo.

A conferência começou no domingo, com a cerimônia de abertura. Nela estava presente o ministro de Ciência e Tecnologia do Brasil, Sérgio Resende. O ministro é cientista da área de materiais, coisa que eu não sabia. O que chamou a atenção é que sua palestra começou com a citação de um comentário que ele ouviu de um amigo certa vez: “- No Brasil, para todo o lugar que eu vá há um campo de futebol e todo mundo está jogando futebol”. Nas palavras de Sérgio Resende, isso contrasta fortemente com a ausência de uma cultura de ciência no nosso país, o que acaba fazendo com que poucas pessoas sejam atraídas por ela. O ministro citou os esforços do governo para mudar esse quadro, e comentou sobre o contexto histórico da ciência no Brasil.


Não é a toa que a ciência não está presente de forma incisiva na nossa cultura – o CNPq foi criado apenas em 1951, e não havia programas de pós-graduação no Brasil antes da década de 1960. Apenas entre 2003 e 2006 o setor industrial nacional acordou para o fato de que pesquisa, desenvolvimento e inovação podem ser fontes geradoras de lucro e que a parceria entre empresas e universidades pode ser bastante estratégica. Nesse mesmo período, a comunidade científica amadureceu. Tudo isso culminou no Plano de Ação 2007-2010 para Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo investimento governamental é da ordem de 26 bilhões de dólares. Dentre as prioridades do programa, está o estímulo a pesquisa e desenvolvimento em 13 áreas estratégicas, sendo duas delas a nanotecnologia e a saúde. Foram citados números que indicam um rápido crescimento e fortalecimento da comunidade científica nacional resultante desse investimento do governo. O ministro encerrou a palestra com um desejo: "- talvez um dia venham a existir mais laboratórios no Brasil do que campos de futebol". Tomara....

(amanhã comentarei sobre alguns trabalhos de colegas que vi na conferência, especificamente sobre nanotecnologia na área da saúde – e uma ótima estratégia de marketing que funciona em todo o mundo para atrair estudantes para palestras)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Seremos imortais dentro de 20 anos. Hein?!

Acabo de receber um e-mail com um link muito interessante, cujo conteúdo transcrevo abaixo:

O cientista Ray Kurzweil afirma que dentro de 20 anos os seres humanos terão capacidade e tecnologia para tornar qualquer um imortal, graças a nanotecnologia.
Ele diz que, teoricamente, a nanotecnologia poderá substituir qualquer orgão de nosso corpo com uma eficácia milhares de vezes melhores que a “original”.
“Dentro de 25 anos poderemos fazer um mergulho de quatro horas sem ao menos precisarmos de oxigênio”
“A nanotecnologia será capaz de aumentar tanto nossas capacidades mentais que poderemos escrever um livro inteiro em apenas alguns minutos”
“Também poderemos entrar em um modo de realidade virtual nunca visto antes, onde os sinais de nosso cérebro será desligado e iremos para onde quisermos. O sexo virtual será algo banal.”
“No nosso dia a dia, figuras holográficas aparecerão em nossos cérebros para nos explicar o que está acontecendo.”

Fonte: clique aqui

Na primeira leitura desse texto, achei que fosse alguma paródia sobre as previsões megalomaníacas a respeito de novas tecnologias, que às vezes saem na mídia para vender jornal. Na dúvida, vasculhei o Google e descobri que o tal R. Kurzweil existe mesmo, é um inventor formado no MIT, liderou o desenvolvimento do primeiro sistema de reconhecimento óptico de caracteres (entre outras contribuições tecnológicas importantes na área de informática) e estava falando sério.... Sério?

Apesar de achar que a nanotecnologia tem muito a oferecer na área médica, em especial quando combinada com células-tronco e terapia gênica, eu sinceramente duvido que em 20 anos seremos capazes de usá-la de forma tão otimista como a descrita acima.

Ainda estamos muito longe de evoluirmos para uma espécie Highlander-cyberpunk..... Mas nem por isso deixamos de sonhar.

P.S.: Agradecimento ao Luis por enviar o link, e por ciceronear a gente (de novo!) aqui no Rio.

UPDATE 04/10/09: Texto interessante de autoria do físico Marcelo Gleiser a respeito desse assunto: aqui.
UPDATE 08/10/09: Outro texto sobre essa declaração, da Suzana Herculano-Houzel: aqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A segunda chance


"- Tá bem, Fernanda, mas essas tais nanopartículas são tóxicas ou não?"
"- E esse negócio aí de nanotecnologia, serve pra quê, afinal?"
"- Mas.... com o que você trabalha, mesmo?"


Eis algumas das perguntas que tenho ouvido ao longo dos últimos 6 anos quando falo que trabalho com nanotecnologia. Embora seja um assunto muito em voga, poucas são as fontes de informação acessíveis e confiáveis que levam a nanotecnologia para o grande público - em especial no que diz respeito às suas aplicações na área da saúde. Eu acredito que as pessoas tem o direito de saber. Por isso, vinha pensando num meio de popularizar o assunto há um bom tempo.

A primeira chance que tive foi um convite que recebi da professora Sílvia Guterres e da professora Adriana Pohlmann, orientadoras do grupo de pesquisa do qual faço parte, feito em 2007:
"- O que você acha de escrever um artigo sobre nanopartículas na terapêutica para a Ciência Hoje?" "- Que legal, quero tentar!". O resultado está linkado aí ao lado (e deu um trabalhão, porque precisei aprender a escrever no estilo jornalístico, o que é excitante, mas nada fácil para alguém tecnicista como eu).

Foi em abril desse ano que tive a segunda chance, por causa de alguns eventos muito tristes que ocorreram na minha vida - um deles foi um procedimento cirúrgico que me tirou de circulação por um mês e meio. O tempo que eu tinha de sobra poderia ser usado por mim para fins de autocomiseração. Preferi usá-lo para aprender a criar e gerenciar um blog de ciências, uma ideia que já vinha rondando meus pensamentos. Assim nasceu o Bala Mágica, de forma meio certinha e marrenta até (é só conferir os primeiros textos) - mas com uma linguagem que foi se tornando mais suave ao longo do tempo e, depois de adquirido um certo grau de confiança, com algumas estabanadas tentativas de adicionar humor à conversa - basicamente, o reflexo de alguém tímido, mas que gosta de fazer amigos, embora nem sempre saiba como.

É por isso que o fato do Bala Mágica, com menos de 6 meses de vida, ter sido lembrado por vários blogueiros de ciência (meus pares!) na votação do prêmio ABC é considerado por mim como um presente devido à história de como tudo começou, como uma honra grande por estar no mesmo grupo de tantos blogs bacanas, alguns dos quais sou leitora assídua - vide blogroll ao lado - e, por fim, como reforço da responsabilidade e do compromisso que assumi em divulgar ciência.

Pela confiança, muito obrigada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aos participantes da 5a semana acadêmica da Farmácia - IPA

Abaixo estão os slides da palestra sobre Princípios e Potencialidades da Nanotecnologia na Terapêutica, apresentada durante a 5a semana acadêmica da farmácia do IPA. Para copiar ou imprimir a apresentação, é só clicar em Get File. Qualquer dúvida sobre o assunto, é só entrar em contato por e-mail ou via comentários neste blog.

A apresentação estará disponível online até dia 19/09 (sáb). Depois disso, para solicitá-la, envie um e-mail para mim ou deixe um comentário.

Agradeço novamente o convite e a participação!

Abraços,

Fernanda
Update 21/09/09: A apresentação foi retirada do ar - se houver interesse em copiá-la, é só entrar em contato comigo por e-mail ou via comentário neste blog.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma mudança de paradigma bem-vinda: do tamanho à propriedade

Acabo de ler o último press release da Agência FAPESP e encontrei uma reportagem sobre um artigo recém-publicado na Nature Nanotechnology (doi:10.1038/nnano.2009.242). Nesse estudo feito por pesquisadores ligados ao Centro de Implicações Ambientais da Nanotecnologia (Duke University, USA), uma nova abordagem na maneira como nanopartículas são selecionadas é defendida.
Em geral, as nanopartículas são classificadas quanto ao seu tamanho. No entanto, conforme o tipo de nanopartícula em questão, as propriedades estão relacionadas a um diâmetro crítico próprio. Isso quer dizer que não é porque uma nanopartícula de prata e um fulereno têm 1,5 nm que ambos terão as mesmas propriedades. Essa mudança de "olhar" quanto à classificação das nanopartículas - do tamanho às propriedades - pode vir a facilitar o estabelecimento de marcos regulatórios para produtos nanotecnológicos, por tornar mais claro o grau de risco desses materiais para a saúde e para o meio ambiente.

domingo, 13 de setembro de 2009

Como controlar a liberação de substâncias ativas usando laser

ResearchBlogging.org
Você descobre que tem uma doença e seu médico diz que você precisa tomar uns 5 medicamentos diferentes. Detalhe: um deles deve ser tomado a cada 8h, outro a cada 6h, outro a cada 24h, etc etc. Agora imagine que você possa combinar todos esses medicamentos em uma única pílula - essa pílula, dentro do seu corpo, liberaria cada substância ativa num determinado horário sem a necessidade de qualquer interferência sua. Seria um medicamento deveras inteligente, não?

Pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology, USA) bolaram um sistema capaz de liberar diferentes substâncias ativas em diferentes horários - ok, com a necessidade de interferência do paciente, mas mesmo assim o resultado foi muito bacana. O estudo partiu de dois princípios: 1) quando nanopartículas de ouro são expostas à radiação infravermelha, elas podem fundir, 2) nanopartículas de diferentes formatos fundem em comprimentos de onda da radiação infravermelha diferentes. Só para lembrar, o comprimento de onda de uma radiação qualquer está relacionado com o quanto ela é energética (quanto maior é o comprimento de onda, menor é a energia da radiação).

Nesse estudo, fragmentos de DNA foram presos à superfície de nanopartículas de ouro cilíndricas com dois diferentes formatos: cilindros curtos ou cilindros longos. Os pesquisadores chamaram as nanopartículas cilíndricas longas de "nano-ossos" (nanobones) e as nanopartículas cilíndricas curtas de "nanocápsulas".


(crédito: Andy Wijaya, MIT)

Ao fundir, as nanopartículas de ouro liberaram os fragmentos de DNA de forma controlada. Esse controle foi possível porque as nanopartículas cilíndricas curtas (as nanocápsulas) fundiram quando os pesquisadores incidiram sobre elas um laser de 800 nm, e apenas os fármacos ligados na superfície dessas estruturas foram liberados. Frente a esse laser de 800 nm, os nano-ossos permaneceram intactos. Os fármacos ligados aos nano-ossos só foram liberados depois, com a exposição a um laser de 1100 nm, que os fundiu.

O estudo em si não tem uma aplicação prática, mas é o que chamamos de "prova de conceito" - é um experimento que prova uma ideia. E essa ideia tem tudo para ser desenvolvida de forma a poder ser utilizada na prática médica nas próximas décadas. Isso é particularmente interessante em casos de doenças crônicas como AIDS e certos tipos de câncer, onde o paciente precisa tomar vários medicamentos. Como o controle da liberação depende de um fator externo (incidir o laser), talvez a ideia também seja promissora para o tratamento de diabetes - a liberação de insulina presa às nanopartículas poderia ser acionada logo após as refeições, pelo próprio paciente.

Cabe salientar que isso tudo ainda está longe de poder ser amplamente utilizado em larga escala. Como mencionado acima, é uma prova de conceito.

OBS.: Agradecimento à Cati Padilha por sugerir o tema desse post.


Wijaya, A., Schaffer, S., Pallares, I., & Hamad-Schifferli, K. (2009). Selective Release of Multiple DNA Oligonucleotides from Gold Nanorods ACS Nano, 3 (1), 80-86 DOI: 10.1021/nn800702n

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Híbridos de nanodispositivos e sistemas biológicos existem?

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Como já comentei aqui, nanochips cerebrais cyberpunk ainda estão muito longe de existir. Mas isso não quer dizer que esforços não tem sido feitos para tentar integrar sistemas biológicos com dispositivos construídos pelo homem na escala nanométrica. Há cerca de 1 mês atrás a Tati Nahas me enviou um link muito interessante e, enrolada que sou, ainda não tinha escrito nada a respeito.

Pois bem, o link em questão é da Nature News - pesquisadores dos Estados Unidos construíram uma plataforma híbrida de nanofibras de silício mergulhadas em uma bicamada lipídica. Essa plataforma é capaz de converter sinais elétricos em sinais iônicos.

Sinais iônicos.... como assim? É que os sistemas biológicos (inclusive você, pequeno gafanhoto) usam uma combinação de gradientes iônicos e potenciais elétricos de membrana como forma de sinalizar coisas de uma célula para outra - é como uma complexa linguagem, que envolve receptores de membrana altamente específicos e fluxos de íons para dentro e para fora das células através de canais iônicos e bombas de prótons.

[Quer um exemplo corriqueiro disso? Certas células de nosso corpo passam a vida jogando íons sódio para fora e íons potássio para dentro - para cada 3 íons sódio transportados para fora, 2 íons potássios são transportados para dentro. Isso cria um gradiente elétrico na membrana celular, porque há mais íons fora do que dentro da célula e, portanto, a parte externa da membrana tem mais cargas positivas que a parte interna da membrana. O resultado disso? Um potencial de membrana! Quando esse potencial se inverte por algum motivo (de forma que a parte interna fica mais positiva que a externa), ocorrem eventos fisiológicos tais como a transmissão de impulsos elétricos entre os neurônios e a movimentação dos músculos. Essa inversão de cargas é o que chamamos de potencial de ação.]

Mas como ocorreu a conversão de sinais elétricos em sinais iônicos? Foi assim: os pesquisadores incorporaram um peptídeo na bicamada lipídica, chamado alameticina (que atua como um poro para íons) e aplicaram um campo elétrico às nanofibras de silício mergulhadas nessa bicamada. Conforme o campo elétrico aplicado, os poros de alameticina na bicamada lipídica que reveste as nanofibras se abriram ou se fecharam. Dessa forma, o fluxo de íons de um lado para outro da membrana foi controlado - o que por tabela resultou no controle do potencial de membrana.

Ainda não há aplicação prática para esse estudo, mas convenhamos que a ideia é bem promissora e faz a imaginação voar...


Uptade 11/09/2009: o tema desse post acabou de sair na última Pesquisa FAPESP Online.

Misra, N., Martinez, J., Huang, S., Wang, Y., Stroeve, P., Grigoropoulos, C., & Noy, A. (2009). From the Cover: Bioelectronic silicon nanowire devices using functional membrane proteins Proceedings of the National Academy of Sciences, 106 (33), 13780-13784 DOI: 10.1073/pnas.0904850106