Estava passando pelo blog Educatual e me deparei com a coluna do prof. Carlos Alberto dos Santos na Ciência Hoje. Vale a pena dar uma olhada na última publicação, que trata sobre o potencial de dano da nanotecnologia ao ambiente e à saúde. Concordo completamente com o professor quanto à necessidade de se estudar a toxicidade de nanomateriais, e o quanto isso ainda é incipiente. Este é um assunto sério e marcos regulatórios precisam ser definidos pelos governos (ainda falarei sobre isso no futuro).
No entanto, não resisti a escrever um adendo para o leitor do Bala Mágica. Embora o colunista tenha feito a comparação da atual situação de desconhecimento da toxicidade dos nanomateriais com aquela vivida pelos descobridores da radioatividade - que manipulavam despreocupadamente materiais radioativos e sentiram seus efeitos negativos no fim da vida -, eu diria que no caso de nanomateriais a coisa não é tão preto-no-branco quanto no caso de materiais radioativos. O cenário está mais para uma escala de cinza.
Eu já havia comentado anteriormente aqui que nanopartícula não é tudo igual. Não há como comparar os riscos de nanotubos de carbono para a saúde humana com aqueles de lipossomas feitos basicamente de lecitina (um derivado da soja). Temos, inclusive, um medicamento no mercado que usa lipossomas para REDUZIR A TOXICIDADE da anfotericina B, que é um conhecido antifúngico.
Outro ponto que ainda gera conflitos (mesmo no meio acadêmico) é a definição do que é um nanomaterial de fato. Essa dúvida existencial ocorre por causa do que os físicos chamam de efeito nano: os materiais apresentam mudanças no comportamento óptico, elétrico e magnético, além de aumento da reatividade química apenas abaixo de um determinado tamanho. Em geral, isso só acontece em estruturas menores que 100 nm. Por isso, nem todos os pesquisadores concordam que trabalhar com nanopartículas maiores que 100 nm é de fato nanotecnologia. Por questão de formação, discordo dessa visão porque é preciso que a nanopartícula esteja geralmente na faixa de 300 nm (e não de 100 nm) para ter certos efeitos biológicos diferenciados.
Justamente por não ser algo preto-no-branco como a radioatividade, os produtos nanotecnológicos não podem ser encarados de forma uniformizada quanto aos seus riscos potenciais.
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