Bala Mágica
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O BALA MÁGICA MUDOU DE ENDEREÇO

Este blog agora faz parte do condomínio
de blogs de ciência Science Blogs Brasil!
Acesse o novo link do Bala Mágica e fique por dentro
do que acontece no nano(bio)mundo:


Comentários não serão mais aceitos aqui no Blogger,
por gentileza dirija-se ao novo endereço.

Aguardo você lá no SBBr!
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As aventuras de Fernanda Balla (mágica) pelos quatro cantos do Rio de Janeiro

(sim, esse título também é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Sábado, fim do segundo dia do II EWCLiPo - mas a noite... essa só estava começando. Como contei no último post desse blog, o pessoal resolveu continuar a discussão, que começou pela manhã, lá no bar Saint-Tropez, na praia dos anjos. Quando cheguei, encontrei duas grandes mesas já abarrotadas de blogueiros, em conversas animadas.

Não tive dúvida, sentei numa pequena mesa ao lado e pedi uma muqueca de peixe e frutos do mar + chopp. Fantástica!!!! Quando o placar já estava 4 x 1 para a muqueca (era comida para umas 4 pessoas!), chegou um pessoal pedindo licença para sentar na mesa: era a equipe de jornalistas da Ciência Hoje, que também estavam participando do evento. Equipe, aliás, divertidíssima - dei boas risadas com essa turma. E, como bons jornalistas, encheram-me de perguntas. Uma delas foi:"-Por que você começou a fazer um blog de ciências?"

"-Você quer a resposta oficial ou a não-oficial?"
"- A não-oficial, claro!"
"-Então tá, a resposta OFICIAL é porque acredito que divulgação científica bem-feita é um compromisso social. A NÃO-OFICIAL é porque eu acho que escrever para o blog é um divertimento!" (nesse momento um silêncio se estabeleceu e o pessoal da mesa fez uma cara de pena para mim....)

Qual não foi a minha supresa quando ouvi a mesma coisa - que divulgação científica é um divertimento - da prof. Suzana Herculano-Houzel, a primeira palestrante da manhã de domingo! Suzana nos brindou com uma palestra brilhante sobre o cientista e seu papel da divulgação de ciência. Segundo ela, existe SIM mercado para livros de divulgação científica no Brasil, e cientistas podem e devem suprir essa demanda. Eu não conhecia em maiores detalhes o trabalho dela, que é apoiado por órgãos como CNPq e FAPERJ (quem disse que divulgação científica é perda de tempo, hein?) - o fato é que virei fã de carteirinha da Suzana. Na palestra seguinte, a Alessandra Carvalho fez o contraponto, mostrando para a plateia qual é o papel do jornalista na divulgação científica (muito instrutivo!).

Infelizmente, não pude assistir às demais palestras do II EWCLiPO, nem participar do encerramento, mas valeu - conheci pessoas muito receptivas e agradáveis, com objetivos em comum: tornar a ciência e o pensamento crítico parte relevante do cotidiano das pessoas, desmistificar a figura do cientista (que pode até ser meio doido, mas também é gente!) e... se divertir com tudo isso :-)

Ainda não sei o que o pessoal decidiu sobre o EWCLiPo do próximo ano, mas seja onde for (Natal! Natal!), certamente estarei lá.

P.S.1: Na volta para o Rio, parei em Cabo Frio para almoçar bobó de camarão com chorinho ao vivo (nessa viagem de 10 dias pelo estado do RJ, só faltou a caldeirada de frutos do mar - mas como disse um amigo, não se pode ganhar todas).

Como é possível ver nas fotos, São Pedro não me sacaneou totalmente. Apesar do tempo ruim durante a semana no Rio, o sol apareceu no fim de semana. Devido a isso, tive a chance de ficar absolutamente extasiada com a beleza e com a cor do mar de Arraial (pena que as imagens abaixo não fazem jus ao que vi in loco).

(praia dos Anjos - local do II EWCLiPo, vista do alto do Pontal do Atalaia - Arraial do Cabo, RJ)
a autoria das fotos é minha, mesmo...

P.S.2: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado - antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata no Gene Repórter. Confira!

UPDATE 01/10/09: A Tati Nahas fez uma "ewclipagem" das fotos lá no Ciência na Mídia. Vale a visita.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Uma Balla (mágica) pelo mundo

(sim, o título é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Nove horas da noite de sexta-feira. Saí da cidade maravilhosa depois de uma semana de chuva e frio. Destino: a paradisíaca Arraial do Cabo. O fim de semana prometia... Lá estava eu indo participar do II EWCLiPo (Encontro de Weblogs de Ciência em Língua Portuguesa). Um inesperado congestionamento na ponte Rio-Niterói atrasou minha chegada - que era para ser as 23h, mas só larguei minhas coisas na pousada à 1h da madrugada. Isso não me impediu de levantar cedinho no sábado, com toda a disposição do mundo... Nesse dia eu teria a chance de conhecer os rostos por trás de tantos blogs legais sobre ciência. Sim, há rostos por trás deles!

Cheguei timidamente no Hotel A Ressurgência, local onde o encontro estava acontecendo desde sexta à tarde. Lá estava o simpaticíssimo prof. Mauro Rebelo, um dos organizadores do evento, repassando os slides da sua palestra, que seria a primeira da manhã. Perguntei a ele onde estava todo mundo. O prof. Mauro abriu um sorriso e disse que a confraternização do dia anterior tinha terminado mais tarde que o previsto. Depois de cerca de meia hora, aos poucos as pessoas foram chegando, e eu fui reconhecendo os rostos (ou parte deles, né Rafael?) das fotografias que constam nos blogs. Eu não tinha colocado referência ao Bala Mágica no meu crachá, e não tenho foto no blog, então foi inusitado algumas pessoas me reconhecerem também: "- Ahh, essa é a bala mágica!". Vejam que ganhei um nickname e fiquei me achando com essa, hahaha...

Na qualidade de organizador, o prof. Mauro chamou o pessoal a entrar no auditório (blogueiros de ciência, quando se juntam, começam a discutir sobre a vida, o universo e tudo mais, e não páram sem a ação de uma força externa). Uma atmosfera de discussão e troca profícua de ideias tomou conta do ambiente e permeou todo o evento. A palestra do prof. Mauro sobre escrita criativa foi ótima - "preguiça, ignorância e medo nunca geram ideias criativas". Na sequencia, a prof. Sonia Rodrigues nos trouxe sua experiência com inclusão digital de jovens e adolescentes. Não pude deixar de lembrar de coisas que já vivenciei lecionando no Projeto Educacional Alternativa Cidadã. O Carlos Cardoso nos brindou com uma divertidíssima palestra sobre como ganhar dinheiro com blogs - e outras cositas mas! Se você tiver a oportunidade de assistir esse publicitário que ganha a vida como blogueiro profissional e se apresenta como nerd, assista. (Descobri, por exemplo, que os blogs de ciência estão na categoria "Personal Carl Sagan"). O Carlos Hotta e o Átila Iamarino nos apresentaram sua experiência como gerentes do ScienceBlogs Brasil, e altas discussões surgiram sobre os critérios para um blog ser incluído no SBBr (afinal, quem não quer esse selo de qualidade para seu blog?)



Depois do almoço, o prof. Osame Kinouchi nos falou sobre redes complexas e mostrou o panorama da blogosfera científica brasileira. Depois dele, o prof. Leandro Tessler trouxe à baila a discussão sobre o efeito da ciência de má qualidade (ou anti-ciência) divulgada pela mídia na opinião pública, e mencionou a questão da hierarquização da informação na rede (ou a falta dela). E se você acha que só blogueiros de ciência estavam presentes no EWCLiPo, surpreenda-se com o palestrante seguinte: O Bernardo Esteves, editor da Ciência Hoje Online, veio com uma equipe e nos mostrou qual o papel de jornalistas e cientistas na divulgação da ciência.

Após as palestras, o prof. Osame anunciou os vencedores do prêmio de melhor blog científico, organizado pelo Anel de Blogs Científicos. O Bala Mágica ganhou o terceiro lugar (e um certificado!) na categoria Mente e Cérebro, Saúde e Medicina. O primeiro lugar dessa categoria foi do Ecce_Medicus. Qual a surpresa quando a Maria foi receber o prêmio? Na plateia, as pessoas se perguntavam: "- Então o Karl é menina?". Não... o Karl é uma entidade ;-)

Para variar, eu sempre pago mico nesses momentos. Estava eu posando para a foto com o certificado na mão, quando escuto de alguém da plateia:
"-Não é foto, ele está filmando!"; "-Ahhh, tá...hehehe". Os prêmios humorísticos também foram distribuídos lá. Menção especial ao Roberto Takata, que ganhou o troféu (na verdade, um sapinho) de comentarista de destaque da blogosfera (e do II EWCLiPo também!).

Depois de um dia de altas discussões, a galera toda foi para o Saint-Tropez, para continuar o papo com cerveja. Mas como o post está longo, continuo contando o que aconteceu em Arraial amanhã.

P.S.: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado - antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata (o ganhador do sapinho!) no Gene Repórter. Confira!

UPDATE 29/09/09: vídeo com depoimentos de blogueiros que participaram do II EWCLiPo, na página da Ciência Hoje Online.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Relatos do ICAM 2009 – parte II

Passando pelas sessões de pôsteres do ICAM 2009, achei algumas coisas muito interessantes.... Trago aqui para o Bala Mágica dois desses trabalhos. O primeiro é de autoria de Juliana C. Cancino - uma química muito simpática que faz doutorado em física -, juntamente com outros colaboradores (T.M. Nobre, S.S. Machado e V. Zucolotto) do Instituto de Química e do Instituto de Física da USP de São Carlos. Juliana construiu um modelo no laboratório que imita a membrana das nossas células e verificou que nanotubos de carbono podem penetrar na membrana, afetando seu empacotamento (que é a forma como ela se organiza no espaço). Cabe salientar que isso aconteceu apenas para nanotubos com determinadas características (como tamanho e tipo de superfície). Nanotubos grandes demais, por exemplo, não foram capazes de se inserir na membrana. Esse tipo de resultado pode ser uma evidência do potencial de toxicidade de nanotubos de carbono e como esse potencial pode ser minimizado alterando-se algumas das suas características.


Outro trabalho legal que vi lá é do Elias Berni – um físico que faz mestrado em biofísica – e colaboradores (V. Zucolotto e C.R. de Oliveira), do Instituto de Física da USP de São Carlos e da Embrapa Instrumentação Agropecuária. Sabe-se que tanto nanopartículas de prata quanto quitosana – uma fibra originada da carapaça de crustáceos – são capazes de impedir o crescimento de bactérias. Resumindo em poucas palavras, Elias mostrou que juntar quitosana e nanopartículas de prata num filme (que é o que chamamos de nanocompósito) tem um efeito maior na prevenção do crescimento da bactéria E. coli que aquele observado para os materiais separados somados. Esse estudo é um exemplo interessante de como é possível obter materiais muito mais eficientes devido ao emprego da nanotecnologia.


Ao meio dia de segunda-feira, estava acontecendo por lá um Lunch-Box Forum sobre desafios globais na educação, como parte das atividades da conferência. Nos banners que anunciavam o fórum, logo abaixo do título e acima da descrição das temáticas e dos palestrantes, estava escrito: “All are welcome”/”Free pizza”. Irresistível não lembrar do PhDComics nesse momento.....




Fonte: PhDComics


P.S.: Depois dos relatos do ICAM 2009, vou contar o que estará acontecendo no II EWCLiPo, direto de Arraial do Cabo-RJ. Aliás, já estou com as malas prontas para pegar a estrada ainda hoje...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Relatos do ICAM 2009 – parte I

Frio, chuva, céu cinzento e ventania. Coisas de Porto Alegre nessa época do ano... Só que eu não estou em Porto Alegre, mas sim no Rio de Janeiro! O motivo? Participar da Conferência Internacional sobre Materiais Avançados (ICAM 2009), que está sendo organizada pela Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) com o apoio da International Union of Materials Research Societies (IUMRS). Essa é a primeira vez que o ICAM acontece na América do Sul. Além de reencontrar pessoas, trocar ideias e ver o que o pessoal da área está fazendo, nesse ano fiquei atenta sobre assuntos que poderiam interessar ao leitor desse blog. Por isso, dividi o post em dois, para não ficar muito cansativo.

A conferência começou no domingo, com a cerimônia de abertura. Nela estava presente o ministro de Ciência e Tecnologia do Brasil, Sérgio Resende. O ministro é cientista da área de materiais, coisa que eu não sabia. O que chamou a atenção é que sua palestra começou com a citação de um comentário que ele ouviu de um amigo certa vez: “- No Brasil, para todo o lugar que eu vá há um campo de futebol e todo mundo está jogando futebol”. Nas palavras de Sérgio Resende, isso contrasta fortemente com a ausência de uma cultura de ciência no nosso país, o que acaba fazendo com que poucas pessoas sejam atraídas por ela. O ministro citou os esforços do governo para mudar esse quadro, e comentou sobre o contexto histórico da ciência no Brasil.


Não é a toa que a ciência não está presente de forma incisiva na nossa cultura – o CNPq foi criado apenas em 1951, e não havia programas de pós-graduação no Brasil antes da década de 1960. Apenas entre 2003 e 2006 o setor industrial nacional acordou para o fato de que pesquisa, desenvolvimento e inovação podem ser fontes geradoras de lucro e que a parceria entre empresas e universidades pode ser bastante estratégica. Nesse mesmo período, a comunidade científica amadureceu. Tudo isso culminou no Plano de Ação 2007-2010 para Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo investimento governamental é da ordem de 26 bilhões de dólares. Dentre as prioridades do programa, está o estímulo a pesquisa e desenvolvimento em 13 áreas estratégicas, sendo duas delas a nanotecnologia e a saúde. Foram citados números que indicam um rápido crescimento e fortalecimento da comunidade científica nacional resultante desse investimento do governo. O ministro encerrou a palestra com um desejo: "- talvez um dia venham a existir mais laboratórios no Brasil do que campos de futebol". Tomara....

(amanhã comentarei sobre alguns trabalhos de colegas que vi na conferência, especificamente sobre nanotecnologia na área da saúde – e uma ótima estratégia de marketing que funciona em todo o mundo para atrair estudantes para palestras)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Seremos imortais dentro de 20 anos. Hein?!

Acabo de receber um e-mail com um link muito interessante, cujo conteúdo transcrevo abaixo:

O cientista Ray Kurzweil afirma que dentro de 20 anos os seres humanos terão capacidade e tecnologia para tornar qualquer um imortal, graças a nanotecnologia.
Ele diz que, teoricamente, a nanotecnologia poderá substituir qualquer orgão de nosso corpo com uma eficácia milhares de vezes melhores que a “original”.
“Dentro de 25 anos poderemos fazer um mergulho de quatro horas sem ao menos precisarmos de oxigênio”
“A nanotecnologia será capaz de aumentar tanto nossas capacidades mentais que poderemos escrever um livro inteiro em apenas alguns minutos”
“Também poderemos entrar em um modo de realidade virtual nunca visto antes, onde os sinais de nosso cérebro será desligado e iremos para onde quisermos. O sexo virtual será algo banal.”
“No nosso dia a dia, figuras holográficas aparecerão em nossos cérebros para nos explicar o que está acontecendo.”

Fonte: clique aqui

Na primeira leitura desse texto, achei que fosse alguma paródia sobre as previsões megalomaníacas a respeito de novas tecnologias, que às vezes saem na mídia para vender jornal. Na dúvida, vasculhei o Google e descobri que o tal R. Kurzweil existe mesmo, é um inventor formado no MIT, liderou o desenvolvimento do primeiro sistema de reconhecimento óptico de caracteres (entre outras contribuições tecnológicas importantes na área de informática) e estava falando sério.... Sério?

Apesar de achar que a nanotecnologia tem muito a oferecer na área médica, em especial quando combinada com células-tronco e terapia gênica, eu sinceramente duvido que em 20 anos seremos capazes de usá-la de forma tão otimista como a descrita acima.

Ainda estamos muito longe de evoluirmos para uma espécie Highlander-cyberpunk..... Mas nem por isso deixamos de sonhar.

P.S.: Agradecimento ao Luis por enviar o link, e por ciceronear a gente (de novo!) aqui no Rio.

UPDATE 04/10/09: Texto interessante de autoria do físico Marcelo Gleiser a respeito desse assunto: aqui.
UPDATE 08/10/09: Outro texto sobre essa declaração, da Suzana Herculano-Houzel: aqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A segunda chance


"- Tá bem, Fernanda, mas essas tais nanopartículas são tóxicas ou não?"
"- E esse negócio aí de nanotecnologia, serve pra quê, afinal?"
"- Mas.... com o que você trabalha, mesmo?"


Eis algumas das perguntas que tenho ouvido ao longo dos últimos 6 anos quando falo que trabalho com nanotecnologia. Embora seja um assunto muito em voga, poucas são as fontes de informação acessíveis e confiáveis que levam a nanotecnologia para o grande público - em especial no que diz respeito às suas aplicações na área da saúde. Eu acredito que as pessoas tem o direito de saber. Por isso, vinha pensando num meio de popularizar o assunto há um bom tempo.

A primeira chance que tive foi um convite que recebi da professora Sílvia Guterres e da professora Adriana Pohlmann, orientadoras do grupo de pesquisa do qual faço parte, feito em 2007:
"- O que você acha de escrever um artigo sobre nanopartículas na terapêutica para a Ciência Hoje?" "- Que legal, quero tentar!". O resultado está linkado aí ao lado (e deu um trabalhão, porque precisei aprender a escrever no estilo jornalístico, o que é excitante, mas nada fácil para alguém tecnicista como eu).

Foi em abril desse ano que tive a segunda chance, por causa de alguns eventos muito tristes que ocorreram na minha vida - um deles foi um procedimento cirúrgico que me tirou de circulação por um mês e meio. O tempo que eu tinha de sobra poderia ser usado por mim para fins de autocomiseração. Preferi usá-lo para aprender a criar e gerenciar um blog de ciências, uma ideia que já vinha rondando meus pensamentos. Assim nasceu o Bala Mágica, de forma meio certinha e marrenta até (é só conferir os primeiros textos) - mas com uma linguagem que foi se tornando mais suave ao longo do tempo e, depois de adquirido um certo grau de confiança, com algumas estabanadas tentativas de adicionar humor à conversa - basicamente, o reflexo de alguém tímido, mas que gosta de fazer amigos, embora nem sempre saiba como.

É por isso que o fato do Bala Mágica, com menos de 6 meses de vida, ter sido lembrado por vários blogueiros de ciência (meus pares!) na votação do prêmio ABC é considerado por mim como um presente devido à história de como tudo começou, como uma honra grande por estar no mesmo grupo de tantos blogs bacanas, alguns dos quais sou leitora assídua - vide blogroll ao lado - e, por fim, como reforço da responsabilidade e do compromisso que assumi em divulgar ciência.

Pela confiança, muito obrigada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aos participantes da 5a semana acadêmica da Farmácia - IPA

Abaixo estão os slides da palestra sobre Princípios e Potencialidades da Nanotecnologia na Terapêutica, apresentada durante a 5a semana acadêmica da farmácia do IPA. Para copiar ou imprimir a apresentação, é só clicar em Get File. Qualquer dúvida sobre o assunto, é só entrar em contato por e-mail ou via comentários neste blog.

A apresentação estará disponível online até dia 19/09 (sáb). Depois disso, para solicitá-la, envie um e-mail para mim ou deixe um comentário.

Agradeço novamente o convite e a participação!

Abraços,

Fernanda
Update 21/09/09: A apresentação foi retirada do ar - se houver interesse em copiá-la, é só entrar em contato comigo por e-mail ou via comentário neste blog.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma mudança de paradigma bem-vinda: do tamanho à propriedade

Acabo de ler o último press release da Agência FAPESP e encontrei uma reportagem sobre um artigo recém-publicado na Nature Nanotechnology (doi:10.1038/nnano.2009.242). Nesse estudo feito por pesquisadores ligados ao Centro de Implicações Ambientais da Nanotecnologia (Duke University, USA), uma nova abordagem na maneira como nanopartículas são selecionadas é defendida.
Em geral, as nanopartículas são classificadas quanto ao seu tamanho. No entanto, conforme o tipo de nanopartícula em questão, as propriedades estão relacionadas a um diâmetro crítico próprio. Isso quer dizer que não é porque uma nanopartícula de prata e um fulereno têm 1,5 nm que ambos terão as mesmas propriedades. Essa mudança de "olhar" quanto à classificação das nanopartículas - do tamanho às propriedades - pode vir a facilitar o estabelecimento de marcos regulatórios para produtos nanotecnológicos, por tornar mais claro o grau de risco desses materiais para a saúde e para o meio ambiente.

domingo, 13 de setembro de 2009

Como controlar a liberação de substâncias ativas usando laser

ResearchBlogging.org
Você descobre que tem uma doença e seu médico diz que você precisa tomar uns 5 medicamentos diferentes. Detalhe: um deles deve ser tomado a cada 8h, outro a cada 6h, outro a cada 24h, etc etc. Agora imagine que você possa combinar todos esses medicamentos em uma única pílula - essa pílula, dentro do seu corpo, liberaria cada substância ativa num determinado horário sem a necessidade de qualquer interferência sua. Seria um medicamento deveras inteligente, não?

Pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology, USA) bolaram um sistema capaz de liberar diferentes substâncias ativas em diferentes horários - ok, com a necessidade de interferência do paciente, mas mesmo assim o resultado foi muito bacana. O estudo partiu de dois princípios: 1) quando nanopartículas de ouro são expostas à radiação infravermelha, elas podem fundir, 2) nanopartículas de diferentes formatos fundem em comprimentos de onda da radiação infravermelha diferentes. Só para lembrar, o comprimento de onda de uma radiação qualquer está relacionado com o quanto ela é energética (quanto maior é o comprimento de onda, menor é a energia da radiação).

Nesse estudo, fragmentos de DNA foram presos à superfície de nanopartículas de ouro cilíndricas com dois diferentes formatos: cilindros curtos ou cilindros longos. Os pesquisadores chamaram as nanopartículas cilíndricas longas de "nano-ossos" (nanobones) e as nanopartículas cilíndricas curtas de "nanocápsulas".


(crédito: Andy Wijaya, MIT)

Ao fundir, as nanopartículas de ouro liberaram os fragmentos de DNA de forma controlada. Esse controle foi possível porque as nanopartículas cilíndricas curtas (as nanocápsulas) fundiram quando os pesquisadores incidiram sobre elas um laser de 800 nm, e apenas os fármacos ligados na superfície dessas estruturas foram liberados. Frente a esse laser de 800 nm, os nano-ossos permaneceram intactos. Os fármacos ligados aos nano-ossos só foram liberados depois, com a exposição a um laser de 1100 nm, que os fundiu.

O estudo em si não tem uma aplicação prática, mas é o que chamamos de "prova de conceito" - é um experimento que prova uma ideia. E essa ideia tem tudo para ser desenvolvida de forma a poder ser utilizada na prática médica nas próximas décadas. Isso é particularmente interessante em casos de doenças crônicas como AIDS e certos tipos de câncer, onde o paciente precisa tomar vários medicamentos. Como o controle da liberação depende de um fator externo (incidir o laser), talvez a ideia também seja promissora para o tratamento de diabetes - a liberação de insulina presa às nanopartículas poderia ser acionada logo após as refeições, pelo próprio paciente.

Cabe salientar que isso tudo ainda está longe de poder ser amplamente utilizado em larga escala. Como mencionado acima, é uma prova de conceito.

OBS.: Agradecimento à Cati Padilha por sugerir o tema desse post.


Wijaya, A., Schaffer, S., Pallares, I., & Hamad-Schifferli, K. (2009). Selective Release of Multiple DNA Oligonucleotides from Gold Nanorods ACS Nano, 3 (1), 80-86 DOI: 10.1021/nn800702n

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Híbridos de nanodispositivos e sistemas biológicos existem?

ResearchBlogging.org
Como já comentei aqui, nanochips cerebrais cyberpunk ainda estão muito longe de existir. Mas isso não quer dizer que esforços não tem sido feitos para tentar integrar sistemas biológicos com dispositivos construídos pelo homem na escala nanométrica. Há cerca de 1 mês atrás a Tati Nahas me enviou um link muito interessante e, enrolada que sou, ainda não tinha escrito nada a respeito.

Pois bem, o link em questão é da Nature News - pesquisadores dos Estados Unidos construíram uma plataforma híbrida de nanofibras de silício mergulhadas em uma bicamada lipídica. Essa plataforma é capaz de converter sinais elétricos em sinais iônicos.

Sinais iônicos.... como assim? É que os sistemas biológicos (inclusive você, pequeno gafanhoto) usam uma combinação de gradientes iônicos e potenciais elétricos de membrana como forma de sinalizar coisas de uma célula para outra - é como uma complexa linguagem, que envolve receptores de membrana altamente específicos e fluxos de íons para dentro e para fora das células através de canais iônicos e bombas de prótons.

[Quer um exemplo corriqueiro disso? Certas células de nosso corpo passam a vida jogando íons sódio para fora e íons potássio para dentro - para cada 3 íons sódio transportados para fora, 2 íons potássios são transportados para dentro. Isso cria um gradiente elétrico na membrana celular, porque há mais íons fora do que dentro da célula e, portanto, a parte externa da membrana tem mais cargas positivas que a parte interna da membrana. O resultado disso? Um potencial de membrana! Quando esse potencial se inverte por algum motivo (de forma que a parte interna fica mais positiva que a externa), ocorrem eventos fisiológicos tais como a transmissão de impulsos elétricos entre os neurônios e a movimentação dos músculos. Essa inversão de cargas é o que chamamos de potencial de ação.]

Mas como ocorreu a conversão de sinais elétricos em sinais iônicos? Foi assim: os pesquisadores incorporaram um peptídeo na bicamada lipídica, chamado alameticina (que atua como um poro para íons) e aplicaram um campo elétrico às nanofibras de silício mergulhadas nessa bicamada. Conforme o campo elétrico aplicado, os poros de alameticina na bicamada lipídica que reveste as nanofibras se abriram ou se fecharam. Dessa forma, o fluxo de íons de um lado para outro da membrana foi controlado - o que por tabela resultou no controle do potencial de membrana.

Ainda não há aplicação prática para esse estudo, mas convenhamos que a ideia é bem promissora e faz a imaginação voar...


Uptade 11/09/2009: o tema desse post acabou de sair na última Pesquisa FAPESP Online.

Misra, N., Martinez, J., Huang, S., Wang, Y., Stroeve, P., Grigoropoulos, C., & Noy, A. (2009). From the Cover: Bioelectronic silicon nanowire devices using functional membrane proteins Proceedings of the National Academy of Sciences, 106 (33), 13780-13784 DOI: 10.1073/pnas.0904850106

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma fria manhã de inverno


Imagine uma fria manhã de inverno. Você acorda, olha pela janela e vê tudo branquinho lá fora (pelo menos aqui no sul....). Aí você acha tão lindo que tira uma foto! Ela vai se parecer muito com essa aí em cima, embora uma coisa não tenha nada a ver com a outra.... Essa imagem na verdade corresponde a nanofibras de SnO2 - a técnica para sua obtenção foi a microscopia eletrônica de varredura, e o artista chama-se Suresh Donthu, da Northwestern University. Essa imagem ganhou o primeiro lugar do prêmio Science as Art de 2007, promovido pela MRS.

P.S.: Se eu mesma não tivesse lido no site que se trata de imagem de nanofibras, não teria acreditado.

P.S.: Essa brincadeira de descobrir o que são as imagens obtidas por microscopia eletrônica está sendo feita pelo pessoal da Globo na série de reportagens sobre nanotecnologia do Jornal Bom Dia Brasil, que passa às 7h30 - se quiser ver as imagens, clique aqui. Até o momento, nenhum absurdo foi dito - só acho que poderia ter sido traçado um panorama mais amplo sobre as pesquisas brasileiras na área, há muita gente boa trabalhando com o assunto nesse Brasilzão e é legal valorizar isso.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Problemas de memória? Saiba como ter uma memória eterna...

ResearchBlogging.org
Você lembra daquele filme chamado Curso de Verão, que sempre passava na Sessão da Tarde? Não...? Então dê uma olhadinha numa das partes mais hilárias e confira se você já não passou por essa situação:




-"O que são ovos?"
-"Como a gente escreve gato?"
-"Eu não sei!"

Hahahaha, está bem, você nunca passou por algo assim, mas...

Que tal se existissem nanorrobôs capazes de alterar a memória das pessoas, fazendo com que elas nunca esquecessem de coisas pré-determinadas? Útil para uma prova? Perfeito para nunca mais esquecer os intermináveis aniversários que sua namorada insiste em lembrar? Assustador e forte indicativo de que o mundo vai acabar? Não, não se preocupe - estamos muuuuito longe de sequer pensar como isso poderia ser feito.

Mas de certa forma, a humanidade tem usado registros de memória há alguns milênios - papiros, livros, fitas cassete, DVDs! A equipe do professor Alex Zettl da Universidade de Berkeley (USA) criou um protótipo de memória digital formada por uma nanopartícula de ferro inserida dentro de um nanotubo de carbono. Quando eletricidade é fornecida ao sistema, a nanopartícula de ferro se desloca para um lado e para o outro no interior do nanotubo - os lados são o 0 e o 1 digitais do sistema binário.

"Courtesy Zettl Research Group, Lawrence Berkeley National Laboratory and University of California at Berkeley."

De acordo com cálculos teóricos, esses dispositivos tem uma capacidade de armazenamento maior que 10^12 bits por polegada quadrada (o blogger não permite sobrescrito, então 10^12 quer dizer 10 seguido de 12 zeros) e uma duração infinita (um bilhão de anos pode ser considerado infinito nesse caso, não pode?)

Bem, a inovação não chega a ser um chip cerebral de memória cyberpunk à la Neuromancer, mas se pensarmos que há menos de uns 10 mil anos atrás o ser humano registrava suas memórias em paredes de cavernas, e que o DVD que usamos hoje não dura mais que uma geração, é uma avanço e tanto....

Begtrup, G., Gannett, W., Yuzvinsky, T., Crespi, V., & Zettl, A. (2009). Nanoscale Reversible Mass Transport for Archival Memory Nano Letters, 9 (5), 1835-1838 DOI: 10.1021/nl803800c